28 março 2018

Prezados alunos de Administração, Processos Gerenciais, Ciências Contábeis e Gestão Hospitalar,

segue o modelo da resenha prometido. Lembrem-se de que a modalidade é a resenha acadêmica crítica, escrita em texto corrido, sem paragrafação. As anotações estão no final da página. Leiam com cuidado.
Desejo a todos um excelente feriado e uma boa páscoa!

Saudações cordiais,

Professora Marília


Uma releitura do seminário 11 de Lacan
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964). 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

Jaques Lacan, em seu 11º seminário (1998, p.242), indica na relação de sujeito com o analista, pelo ideal do eu, uma experiência de análise. Observa-se o rompimento da possibilidade combinatória que ele faz, no questionamento de recalque proposto por Freud[MM1] . O processo de identificação desse eu começa através de um ponto eleito no campo do outro. Nesse campo, ele se vê como sujeito amado. “O ponto do ideal do eu é o de onde o sujeito se verá, como se diz, como visto pelo outro – o que lhe permitirá suportar-se numa situação dual para eles satisfatória do ponto de vista do amor”. “Enquanto miragem especular, o amor [...] se situa no campo instituído no nível da referência do prazer, desse único significante necessário para introduzir uma perspectiva centrada no ponto ideal, I maiúsculo, colocado em algum lugar do Outro, de onde o Outro me vê, na forma em que me agrada ser visto.” (LACAN, 1998, p.253). Entende-se que no amor como efeito de transferência, sob a ótica do narcisismo, amar consiste em querer ser amado. Desse amor, enquanto objeto de transferência, é o causador da resistência à revelação do inconsciente e mesmo da reação do analista diante da resistência.  “O inconsciente é a soma dos efeitos da fala sobre o sujeito, nesse nível em que o sujeito se constitui pelo significante”, (LACAN, 1998, p.126)[MM2] , considerando que a soma dos efeitos da fala consistem nos equívocos, chistes, lapsos, sonhos ou mesmo no eixo metonímico e nos efeitos do significante, manifestando-se, simbolicamente, pela linguagem. A linguagem como sendo ela própria, uma perda do inconsciente. Trata-se da perda da lalangue, deixando como rastro do inconsciente, o significante. “A perda produz uma zona de sombra”, (LACAN, 1998, p.127). O traço do barramento, a castração, o traço unário ou o significante inicial produz uma perda de que nunca saberemos o objeto perdido. O que resulta dessa perda é o resto como lembrança, angustiante ou paralisante, como efeito inconsciente em outros acontecimentos. [MM3] È a perda atribuída ao momento que o sujeito produz um objeto que se sobrepõe à falta. Não se sabe, contudo, o que é a causa perdida. O indivíduo, assujeitado ao desejo do analista, tenta enganá-lo dessa sujeição. “[...] o sujeito enquanto assujeitado ao desejo do analista, deseja enganá-lo dessa sujeição, fazendo-se amar por ele, propondo por si mesmo essa falsidade essencial que é o amor. Ele só é repetição do que passou assim-assim, por ter a mesma forma. Não é sombra das antigas tapeações do amor. É isolamento, no atual, de seu funcionamento puro de tapeação.” (LACAN, 1998, p.240). Assim, no encontro com o analista, o que se dá por meio de transferência, o inconsciente se fecha, criando um paradoxo: o inconsciente é fechado, mas o analista torna-se conivente com a tapeação que lhe é proposta. O inconsciente funciona para Lacan como o “discurso do outro”, dada a enunciação do sujeito[MM4] . Como nos indica Lacan (1998), o inconsciente faz um apelo à “reabertura”, exatamente na maneira como a interpretação do analista se torna decisiva para dar conta do nó da transferência. O jogo do inconsciente, seja através de sonho, chiste ou lapso, procede a interpretação. Na falta, o sujeito considera diferentes significantes no campo do outro. Para Lacan (1998), é justamente o primeiro significante que se torna portador do que ele chamou de infinitização do valor do sujeito. Na transferência, o sujeito refaz sua fantasia, a partir de um outro ao qual ele se assujeitou. O papel do analista na transferência não é responder àquilo que o analisando espera, ou seja, o analista não responde da forma ideal que se é esperada. O analista é, portanto, uma espécie de sujeito do desejo. Para Lacan, a tapeação do amor, no processo de transferência, é tratada também a partir da pulsão, enquanto se identifica o processo de separação. Assim, o plano da identificação é possível pelo intermédio da separação do sujeito na experiência. [MM5] A experiência do sujeito é assim reconduzida ao plano onde se pode presentificar, da realidade do inconsciente, a pulsão.” (LACAN, 1998, p.259). A pulsão seria o   resultado da maneira como funciona a cadeia de significantes que se situa no outro? “O Outro é o lugar em que se situa a cadeia do significante que comanda tudo que vai poder presentificar-se do sujeito, é o campo desse vivo onde o sujeito tem que aparecer. [MM6] E eu disse – é do lado desse vivo, chamado à subjetividade, que se manifesta essencialmente a pulsão.” (LACAN, 1998, p.194). Dessa forma, pensando no lugar que o outro ocupa na transferência, o sujeito pode tomar o objeto não mais como via de gozo, mas como um causador de uma nova experiência que lhe permita escrever sua nova cena no mundo.

                                                                                                    
Mestre em Linguística Aplicada
Fale- UFMG-2013 [MM7] 


 [MM1]Introdução com apresentação do autor. Retome o nome do autor e a obra.

 [MM2]Utilização da impessoalidade (emprego da 3ª pessoa + partícula SE).

 [MM3]Explicação de algum trecho com citação e devidas referências.

 [MM4]Expressão que dá ideia de algo a ser concluído.

 [MM5]Indagações feitas a partir da interferência do autor.

 [MM6]Indagação com frase interrogativa e resposta em seguida.
 [MM7]Assinatura do autor com indicação do grau acadêmico e da  instituição, ano de elaboração.


Passo a passo da resenha acadêmica
1.Coloque o título (não, necessariamente, o mesmo do objeto resenhado).
 Informe os dados bibliográficos a respeito da obra que está sendo resenhada.
2.—Apresente as credenciais do autor.
—Resuma o texto, que deve ser escrito em modelo texto corrido, ou seja, sem parágrafos.
3.— Faça uma análise crítica, podendo até fazer comparações, caso haja espaço para tal.
4. Faça a recomendação ou não da obra resenhada, podendo especificar se é uma leitura indicada para crianças, jovens, adultos, estudantes, etc.
5. Identifique o autor do conteúdo resenhado.
6. Assine sua resenha e lembre-se de informar as referências feitas na sua resenha, caso as tenha feito.

—A resenha tem como principal característica, o fato de ser um breve texto, como se fosse um resumo mas que é feito comentando o trabalho realizado. A resenha precisa ter uma ótima qualidade em seu conteúdo e é preciso dominar muito bem as normas da ABNT para que ela fique padronizada. Todo o texto da resenha deve ser feito de forma uniforme, não podendo conter subdivisões, e na primeira folha, deverá constar a referência bibliográfica da obra que está sendo comentada. —O texto é com alinhamento justificado e não use negrito e nem espaçamento entre os parágrafos. —Para ser uma boa resenha, lembre-se ainda de garantir um português correto, ideias claras e uma boa estruturação.