19 novembro 2014

A língua que falamos é engraçada.
Pra perceber fique de antena ligada.
Não se deve levar tudo ao pé da letra,
Senão acaba dando a maior tetra.
Abacaxi é coisa difícil de fazer.
Dar bolo em alguém é não aparecer.
Pauleira é correria; bate-boca, discussão.
Ir a festa sem ser convidado é bicão.
Cair como um patinho é ser enganado,
Sujeito careta é um cara antiquado.
Fazer tricô é o mesmo que fofoca,
Uma situação complicada é broca.
Fazer sucesso é abafar, arrepiar;
Ir para o beleléu é fracassar.
Chutar é afirmar sem ter certeza,
Viver à sombra é querer moleza.
Banho é derrota, cabeça é cuca,
Pessoas sem um parafuso é maluca.
Preguiçoso é quem fica na maciota,
Mentir é o mesmo que contar lorota.
Aproveitar é tirar uma casquinha.
Arrecadar grana como amigos é vaquinha.
Neca é nada, na bucha é no ato,
Dar uma de bobo é pagar o pato.
Coisa sem valor é coisa mixuruca,
Desejar mal para alguém é uruca.
Xarope é uma pessoa bem chata,
Chupim é quem vive na mamata.
Desaparecer é tomar um chá de sumiço,
Estar fora é não assumir compromisso.
Velho é pai, coisa pode ser treco,
Confusão é sempre perereco.
Colega duro de aturar é mala,
Cabular é faltar à aula.
Estudar nossa língua é maneiro.
Brincar com as palavras é recreio.

João Anzanello Carrascoza.
Revista Recreio. Era uma vez...São Paulo: Abril, 2004. Edição Especial.