ARQUIVO PESSOAL DE LILA MENDES-NOV.2015 |
Tão
forte como a formação híbrida que dá origem ao título da
postagem, São Paulo é uma revisita agradável, acompanhada pelo
glamour de uma cidade que não dorme, mas acorda todos os dias, começando pela Universidade de São Paulo (USP), onde participamos
do XI Colóquio sobre os
estudos lexicais em diferentes perspectivas. No
Colóquio, trocamos experiências a partir de trabalhos na área da
linguística, que muito me interessaram. Em particular, conheci um
pesquisador, que também desenvolve um trabalho com um jornal
popular, o Meia Hora, do Rio de Janeiro. Comprovada a
hipótese de como a mídia impressa popular está presente em
pesquisas acadêmicas, com finalidades pedagógicas, cada vez mais
consistentes e elucidativas, saí do congresso realizada.
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Estivemos
acomodados no bairro Pinheiros, próximo à Vila Madalena e
exploramos um lado de São Paulo, boêmio, com bons bares, música ao
vivo e, como sempre, de uma exibição gastronômica ostentadora. Investimos em um tour aos principais museus de
SP, incluindo o MASP e o Museu da Língua Portuguesa
que, por sinal, está cada vez mais charmoso e mais rico de
informações acerca da nossa língua materna e da influência de
outros idiomas e expressões populares na formação do português. O
Museu da Língua Portuguesa conta com três compartimentos, sendo
duas exposições (a permanente e a provisória) e um andar com um
ciclo de debates e videografia. Achei o museu lindíssimo desta vez.
Quero voltar com os alunos.
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São
Paulo é um misto de sensações. SÃo Paυlo nυnca dorмe, мaѕ
acorda. É υмa ιмpreѕѕÃo мeιo caмυғlada do qυe é
concreтo e do qυe é poeѕιa. A frase faz parte de um texto de
minha autoria, em vias de publicação.
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Com
uma temperatura amena, de quinta a domingo, São Paulo abrigou-nos
com a mesma festa, semelhante ao ritual do escritor e jornalista
uruguaio, Eduardo Galeano, que morreu em abril de 2015. Ao refletir
sobre os grandes centros urbanos, o autor comenta
Os
habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center,
como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana
até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até
esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados,
vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à
qual não foram convidados, mas podem olhar tudo.
Era
a famosa liquidação Black Friday, a vitrine comercial e descartável
que iríamos vislumbrar. Ir às compras parece inofensivo, mas é a
cultura do consumo que preenche uma parte da viagem a são Paulo.
Todas as coisas ali consumidas serão descartadas. Ficarão apenas as
fotos dos museus, das famosas streets, pelas quais
transitamos, e o dinheiro volta à velocidade da luz.
Talvez, a
cidade que finge não dormir, resgata sua autonomia no turismo. Seus
espaços são aconchegantes e isso não nos tira o prazer de consumir
São Paulo por inteiro. Ser descartável no mundo do consumo é um
outro defeito a superar.
Voltei
a ler as crônicas do escritor Eduardo Galeano. Acho que o motivo
está na quantidade incrível de shopping centers espalhados na
armadilha do caça-bobos de que nos fala o escritor. Tirando a
marcha às compras, eu fui aos museus, tomei um frappuccino de
chocolate na starbucks, fui à estação da Luz, ao parque Villa
Lobos e fiz os percursos vespertinos aos gigantes da efemeridade.
Comprei! Voltei com as sacolas abastecidas para mais de um natal.
Ainda bem que, desta vez, enquanto lia Galeano, depreendia que o
valor das pessoas precede, não das
coisas e dos
objetos que
os enfeitam, mas dos
sorrisos, das
palavras de
amor e das atitudes. Via um rosto
muito comum na estação. Queria expandir esse rosto em uma tela. A
poesia é algo que pertence à cidade. Uma parte do concreto se
converte na subjetividade. Enquanto eu seguia com uns amigos pela
Paulista, imaginei que aquele
sorriso é algo que se poetiza. As cores que ele tem são como as
vias e as curvas de São Paulo. Paramos para bebericar alguma coisa na
Vila Madalena. Os bares estavam, como sempre, fervendo. A música que
tocava desta vez, era a do meu Louro Humberto Gessinger. Parei para
escutar. Escutando, pude entender o porquê de estarmos ali.
Não há natureza capaz de
alimentar um shopping center do tamanho do planeta. Nem
mesmo a intensidade deste sorriso que me acompanha. Ele
sorri quando fala alguma coisa. Um sorriso
de qualquer maneira, descartável, gaboso
como São Paulo,
mas deliciosamente, eufórico.
Professora Marília Mendes
Referência
GALEANO,
Eduardo. O império do consumo.
http://mercado-global.blogspot.com/2007/01/o-imprio-do-consumo.html
. Postado em janeiro de 2008, acessado em novembro de 2015.