As considerações iniciais do
livro da autora Eni Orlandi levam-nos à reflexão no que diz
respeito à grande virada que acompanha os estudos da análise do
discurso, desde as correntes fundamentadas por Michel Pêcheux às
novas abordagens que surgiram com o alargamento da exploração de
seus princípios básicos. O sentido, o sujeito e a ideologia são
seus principais referentes na relação político-teórica que se
discute.
Para a autora, à luz de
Pêcheux, no Brasil, a ditadura militar, considerando o panorama
nacional e a produção discursiva do regime militar, criou grande
resistência política, através de reivindicações que acabaram por
definir uma crise na educação, responsável pela criação de um
discurso dominante, o que levou à necessidade de desvirar os
discursos. Assim, a análise do discurso se firma a partir da
conjuntura política nacional do regime militar, marcado pelo
discurso da mundialização. Ser estruturalista no Brasil, neste
período (anos 60/70) era resistir aos princípios irracionais da
ditadura.
Em meio à virada, Eni orlandi
posiciona-se a favor da ideia de que o discurso é o próprio objeto
da análise do discurso, sendo que na conjuntura política atual,
considera-se a generalização do discurso, o que aponta para o
cuidado que se deve ter com a sua não generalização. Ela critica a
maneira como os fabuladores tratam o trabalho de arquivo, chamando a
atenção para a importância de se colocar no lugar teórico da AD,
o que seria, de acordo com o texto, trabalhar no entremeio.
Observa-se um destaque, por
parte da autora, quanto à necessidade de se fazer ciência do
discurso, estabelecendo uma relação entre teoria, método,
procedimentos e objeto. Na formação discursiva, ela traz como cerne
fundador da análise do discurso, a relação entre língua e
ideologia, ao praticar uma definição de discurso , que é a de
Pêcheux: o discurso é efeito de sentidos entre locutores.
Em relação à virada, ela
cita a necessidade de se trabalhar sobre as materialidades
discursivas, a partir de M. Pêcheux, em que a língua é entendida
não como um sistema, mas como real específico do desdobramento das
discursividades, observando, portanto, seus desdobramentos
contraditórios.
Ao relacionar linguagem e
mundo, Orlandi considera a materialidade da linguagem como mediadora
entre o sujeito e a realidade. Na constituição de sujeitos e de
sentidos, a ideologia tem o seu papel de determinação. Sobre um
último aspecto, consideramos os mecanismos de paráfrase e de
metáfora, que ela conceitua como deslizamento de sentidos, já que
não há um controle sobre o modo de como a ideologia funciona. Na
abordagem da educação em direitos humanos, ainda à luz de Pêcheux,
Orlandi resgata a importância da responsabilidade, implícita nas
questões éticas e políticas que estão presentes no mundo
capitalista e na formação do sujeito ético e político.
Marília Mendes
Referência bibliográfica:
ORLANDI,
E. Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia. Campinas:
Pontes, 2012.
POSLIN
– ÁREA DE LINGUÍSTICA APLICADA-FALE/UFMG
Contribuições da perspectiva discursivo-psicanalítica na formação de professores de línguas- Março de 2013