22 março 2013



A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
                                                                       Por Marília Mendes

A Sistematização das características linguísticas que distinguem as variedades ao longo do contínuo da urbanização:

  • A autora observa, para isso, a fala de brasileiros com antecedentes rurais e rurbanos e as características da linguagem dos falantes em situações de estilo monitorado e não monitorado, considerando, no ramo da linguística, a fonologia e a sintaxe;
  • As principais regras fonológicas de variação no português brasileiro ocorrem na posição pós-vocálica na sílaba.
  • Sílaba-----> abrimento articulatório ----> representado pela vogal
(a vogal como núcleo silábico)

1. Vogais orais: /i/, /u/, /e/, /o/, /a/
As vogais orais, quando ressoadas pelo nariz, são chamadas de vogais nasais: /ĩ/, /ũ/, /ẽ/, /õ/,/ã/;

    • As vogais médias /e/ e /o/ são pronunciadas como /i/ e /u/ em sílabas átonas, pretônicas ou postônicas.
    • Na escrita, em fase de alfabetização, os alunos podem escrever: amigu, dinovu.
    • No subfalar nordestino, as vogais pretônicas soam como vogas abertas, /é/, /ó/, em vez de /i/, /u/.

  1. Classificação das consoantes:
    Quanto à zona de articulação

    • Bilabiais : lábio contra lábio: /p/, /b/, /m/
    • labiodentais: lábio inferior e arcada dentária superior: /f/, /v/
    • linguodentais: língua contra arcada dentária superior: /t/, /d/, /n/
    • alveolares:língua em direção ou contra os alvéolos: /s/,//z/, /l/, /rr/
    • palatais: dorso da língua contra o céu da boca: /x/,/j/, /lh/, /nh/
    • Velares: raiz da língua contra o véu do paladar: /k/, /g/


Quanto ao papel das cordas vocais

    • surdas : /p/,/f/,/t/,/s/,/x/,/k/
    • sonoras: /b/,/v/;/d/,/z/,/j/,/g/,/m/,/n/,/nh/,/l/,/lh/,/r/,/rr/.

    1. A estrutura das sílabas

      * CV (canônica : consoante + vogal): má, lá, lu-xo.
      * V: a, e, ú-ni-co
      * CVC: por, mar, cas-te-lo
      * CCV: bra-ço, pla-ca
      * CCVC: plas-ma, pres-tí-gio
      * CCVCC: trans-por-te
      * CCVC: pers-pec-ti-va
    1. Consoantes líquidas são as que ocupam as segunda posição na estrutura configurada: pra-ta, blo-co.

    1. Na configuração CCV , observa-se uma regra de variação nos falares rurais e rurbanos e ainda, nos falares não monitorados, em que há a troca neutralização) (do /l/ por /r/ : broco, pobrema, craro (rotacismo).
      Ainda a troca do /r/ pelo /l/: arto (alto); calvão (lambdacismo).
      A neutralização do /r/ e do /l/ no padrão CCV pode indicar variações rurais e rurbanas, marcador regional e ainda pode ser um problema fonoarticulatório.
      Quando o /r/ é articulado com vibrações na ponta da língua ou com a língua dobrada para trás (retroflexa), forma-se o “R caipira” (MG, SP e Goiás).


    1. Observa-se ainda que o /r/ pós-vocálico tende a ser suprimido nos casos de infinitivos verbais: corrê, almoçá e que em função da supressão, poderá ocorrer o fenômeno da hipercorreção. Além dos infinitivos verbais, o /r/pós-vocálico também pode ser suprimido nas formas do futuro do subjuntivo: Se eu estivé, se ele quisé; dos substantivos, adjetivos, advérbios : amô,melhó, regulá. Repare que nos monossílabos, o /r/ pós-vocálico tende a ser mais preservado: mar, dor, par.
    2. O /s/ na posição pós-vocálica: Em BH e BSA, ele é realizado como uma sibilante e no RJ, SP, GO, ele é realizado como chiante. Sua variação ocorre de acordo com a região geográfica e com o contexto fonológico. Ele ainda aparece como um morfema de plural (alunos, filas) ou em palavras monomorfêmicas, como morfema lexical ( lápis, pires, atrás). Conclui-se que o /s/ pós-vocálico tem maior tendência para ser suprimido, quando se trata de morfema plural, o que é uma questão gramatical de concordância e que a concordância nominal, prevista na gramática normativa, só tem sido aplicada em situações monitoradas. Convém ressaltar que o plural regular merece muito cuidado, já que a grande tendência é a supressão do /s/ na formação plural regular e não na irregular.
    3. Referências bibliográficas:

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna,. 2001.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna – a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO- FALE-UFMG
Seminário de Tópico Variável em Linguística Aplicada- O ensino de português como língua materna – o tratamento da variação linguística
Aula nº: 02 : A sociolinguística na sala de aula -19/03/13
Apresentação : Marília Mendes