Através
de uma análise dos erros dos aprendizes no processo de aquisição
de uma segunda língua (L2), tendo em vista que o erro
na produção escrita em Língua Estrangeira (LE) é tomado como o
ponto de partida para um processo de conscientização e engajamento
ativo do aluno na busca da sua autocorreção, o modelo de um estudo
realizado em Caxias do Sul (2001) pode, perfeitamente, ser aplicado em
escolas de ensino médio e/ou fundamental, em que se ensina língua
estrangeira (LE) ou língua materna (LM).
Nesse contexto, a correção passa a ser uma aliada e não inimiga do aprendiz. O feedback corretivo fornecido através do uso de uma Tabela de Marcação, a conscientização dos erros através da reescrita e o processo de autoanálise daquilo que os aprendizes produziram, contemplando os processos cognitivos, contribuirão de forma significativa para que as estruturas gramaticais sejam assimiladas sem levar o aluno à inibição.
Analisando
os textos reescritos em Inglês e mesmo os diferentes estágios em
que se encontram os aprendizes na pesquisa, pude observar que o mesmo
procedimento pode ser aplicado ao ensino de LM. A hipótese do
Noticing funciona como um facilitador da aprendizagem. A
conscientização torna-se necessária para a assimilação
das estruturas gramaticais da língua inglesa, tanto quanto no
português. À medida em que os alunos foram reescrevendo seus
textos, eles começaram a demonstrar maior proficiência na língua,
o que, de certa forma, trouxe-lhes um certo conforto, no que diz
respeito à produção do texto escrito.
Priorizando as situações que mais se aproximam do uso espontâneo da língua no dia a dia, observa-se como a metodologia de ensino de línguas tem dado ênfase à abordagem comunicativa, criticando os livros didáticos que estão focados no estudo das formas gramaticais. Na hora da correção, o professor pode corrigir imediatamente, tendo como consequência, a interrupção e o prejuízo na comunicação do aluno. Se ele opta por corrigir depois de um certo intervalo, ele poderá ter um feedback sem efeito.
Assim, o que merece a atenção
do professor na hora da correção é dar ênfase ao aspecto
comunicativo. A compreensão consciente do sistema de língua-alvo é
necessária para os aprendizes produzirem formas corretas e usá-las
apropriadamente. É possível identificar e diagnosticar os erros dos
alunos em um processo de autocorreção.
Quanto
aos resultados apresentados, a natureza do estudo foi descritiva, com
caráter longitudinal. Após o procedimento da reescrita, os alunos
foram submetidos a um questionário (abordagem qualitativa). O uso de
uma tabela de marcação também foi um instrumento pertinente na
pesquisa, sendo uma tabela por aluno, identificando a heterogeneidade
da proficiência em LE nos alunos envolvidos. Houve um processo de
conscientização por meio da reescrita, buscando a correção dos
aspectos formais da língua escrita e também o aprimoramento da
produção textual, o que não ocorreu de forma crescente. Ficou
claro, portanto, o aspecto da não-linearidade neste processo.
O
que observo nos resultados apresentados, torna relevante uma velha
crença que já faz parte da minha sala de aula desde há muito. O
sistema é complexo. A aprendizagem não se resume a modelos
pré-estabelecidos. Compete ao professor observar e motivar seus
alunos ao procedimento da reescrita, não apenas em busca de um texto
perfeito, seja ele escrito em língua estrangeira ou em português. É
dever do professor instigar o aluno aprendiz a superar as diferenças
entre os sistemas de LM e da língua-alvo.
Certamente,
todo investimento vai lhe custar tempo, paciência e perseverança.
Para mim, a correção de erros está aliada à aprendizagem de
línguas e estou convencida de que reescrever o que se produz
promove o aumento da conscientização do aluno quanto à importância
da aquisição de conhecimento. O professor, preso a um sistema de
correção normativo e, por vezes, repressor, que vê o erro como um
inimigo na sala de aula, estará fadado a persistir no erro, sem
sequer, tentar uma saída para que o seu papel seja de facilitador na
aprendizagem e, não apenas, de corretor de textos.
Marília Mendes
Marília Mendes
(Esta resenha é parte do meu seminário, apresentado no Programa de Pós-Graduação em estudos linguísticos, na FALE/UFMG, em maio de 2013.)
REFERẼNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALALWRIGHT, Dick; BAILEY, Kathleen M. Focus on the language classroom research for language teachers. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
CORDER, Pitt. The Significance of learners'Erros. International Review of Applied Linguistics, n.5, p. 161-9, 1967.
CORDER, Pitt. The Significance of learners'Erros. International Review of Applied Linguistics, n.5, p. 161-9, 1967.
BERETTA, Juliana. A correção de erros: inimiga ou aliada. In: Língua estrangeira e segunda língua aspectos pedagógicos, p. 292 a 334: Universidade de Caxias do Sul,Porto Alegre, 2001.