02 junho 2013








Através de uma análise dos erros dos aprendizes no processo de aquisição de uma segunda língua (L2), tendo em vista que o erro na produção escrita em Língua Estrangeira (LE) é tomado como o ponto de partida para um processo de conscientização e engajamento ativo do aluno na busca da sua autocorreção, o modelo de um estudo realizado em Caxias do Sul (2001) pode, perfeitamente, ser aplicado em escolas de ensino médio e/ou fundamental, em que se ensina língua estrangeira (LE) ou língua materna (LM).

 
O objetivo é investigar a relevância da reescrita como estratégia de conscientização, de acordo com a Hipótese do Noticing de Schmidt (1990), imaginando que a escrita consiste em produzir e não apenas reproduzir, como tem sido tradicionalmente feito com os alunos aprendizes de língua materna ou ainda, com os alunos que estão no processo de aquisição de L2.

 Nesse contexto, a correção passa a ser uma aliada e não inimiga do aprendiz. O feedback corretivo fornecido através do uso de uma Tabela de Marcação, a conscientização dos erros através da reescrita e o processo de autoanálise daquilo que os aprendizes produziram, contemplando os processos cognitivos, contribuirão de forma significativa para que as estruturas gramaticais sejam assimiladas sem levar o aluno à inibição.

Analisando os textos reescritos em Inglês e mesmo os diferentes estágios em que se encontram os aprendizes na pesquisa, pude observar que o mesmo procedimento pode ser aplicado ao ensino de LM. A hipótese do Noticing funciona como um facilitador da aprendizagem. A conscientização torna-se  necessária para a assimilação das estruturas gramaticais da língua inglesa, tanto quanto no português. À medida em que os alunos foram reescrevendo seus textos, eles começaram a demonstrar maior proficiência na língua, o que, de certa forma, trouxe-lhes um certo conforto, no que diz respeito à produção do texto escrito.

Priorizando as situações que mais se aproximam do uso espontâneo da língua no dia a dia, observa-se como a metodologia de ensino de línguas tem dado ênfase à abordagem comunicativa, criticando os livros didáticos que estão focados no estudo das formas gramaticais. Na hora da correção, o professor pode corrigir imediatamente, tendo como consequência, a interrupção e o prejuízo na comunicação do aluno. Se ele opta por corrigir depois de um certo intervalo, ele poderá ter um feedback sem efeito.
 
Assim, o que merece a atenção do professor na hora da correção é dar ênfase ao aspecto comunicativo. A compreensão consciente do sistema de língua-alvo é necessária para os aprendizes produzirem formas corretas e usá-las apropriadamente. É possível identificar e diagnosticar os erros dos alunos em um processo de autocorreção. Quanto aos resultados apresentados, a natureza do estudo foi descritiva, com caráter longitudinal. Após o procedimento da reescrita, os alunos foram submetidos a um questionário (abordagem qualitativa). O uso de uma tabela de marcação também foi um instrumento pertinente na pesquisa, sendo uma tabela por aluno, identificando a heterogeneidade da proficiência em LE nos alunos envolvidos. Houve um processo de conscientização por meio da reescrita, buscando a correção dos aspectos formais da língua escrita e também o aprimoramento da produção textual, o que não ocorreu de forma crescente. Ficou claro, portanto, o aspecto da não-linearidade neste processo.

O que observo nos resultados apresentados, torna relevante uma velha crença que já faz parte da minha sala de aula desde há muito. O sistema é complexo. A aprendizagem não se resume a modelos pré-estabelecidos. Compete ao professor observar e motivar seus alunos ao procedimento da reescrita, não apenas em busca de um texto perfeito, seja ele escrito em língua estrangeira ou em português. É dever do professor instigar o aluno aprendiz a superar as diferenças entre os sistemas de LM e da língua-alvo.
Certamente, todo investimento vai lhe custar tempo, paciência e perseverança. Para mim, a correção de erros está aliada à aprendizagem de línguas e estou convencida de que reescrever o que se produz promove o aumento da conscientização do aluno quanto à importância da aquisição de conhecimento. O professor, preso a um sistema de correção normativo e, por vezes, repressor, que vê o erro como um inimigo na sala de aula, estará fadado a persistir no erro, sem sequer, tentar uma saída para que o seu papel seja de facilitador na aprendizagem e, não apenas, de corretor de textos.
                                                                                                       Marília Mendes
 
(Esta resenha é parte do meu seminário, apresentado no Programa de Pós-Graduação em estudos linguísticos, na FALE/UFMG, em maio de 2013.)
 
REFERẼNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALALWRIGHT, Dick; BAILEY, Kathleen M. Focus on the language classroom research for language teachers. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
CORDER, Pitt. The Significance of learners'Erros. International Review of Applied Linguistics, n.5, p. 161-9, 1967.
BERETTA, Juliana. A correção de erros: inimiga ou aliada. In: Língua estrangeira e segunda língua aspectos pedagógicos, p. 292 a 334: Universidade de Caxias do Sul,Porto Alegre, 2001.