28 outubro 2012


Análise do poema "No meio do caminho"


No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento 

na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade - (Revista de Antropofagia, 1928; incluído em Alguma poesia,1930)
Nota:
Antonio Candido, em seu livro Vários escritos, ao analisar o poema "No meio do caminho", explica: "... a sociedade oferece obstáculos que impedem a plenitude dos atos e dos sentimentos...
A leitura optativa a partir do terceiro verso (que se abre para os dois lados, sendo fim do segundo ou começo do quarto) confirma que o meio do caminho é bloqueado topograficamente pela pedra antes e depois, e que os obstáculos se encadeiam sem fim".

O que, inicialmente, tornou perplexa a ideia de um poema em que a palavra pedra, metáfora central do poema, não poderia ser compreendida no seu sentido denotativo, deu asas à imaginação do leitor, permitindo que, a partir da própria simplicidade apresentada na função emotiva e na função expressiva dos versos, o eu- lírico assumisse a posição de vítima, subordinado ao mundo e às suas complicações. A pedra é, portanto, o início das dificuldades, a percepção do poeta, a memória, a progressão do empecilho, da angústia da época e da possibilidade de ser mais que a pedra, a condição para a continuidade de um ou de mais caminhos.

                                 Professora Marília Mendes