25 julho 2011

Hoje é o dia do escritor. Um blogueiro, que escreve seus próprios posts, segue a linha da escrita. Aquele que escreve tem o dom de fazer conhecer o amor, que vem daquilo que se escreve. Quando todas as imagens se esgotam, a palavra é que salva o artista.

Eu diria que a palavra salva o arteiro. Muitos escritores cometem um tipo de arte que entretém e, só por isso, merecem ser lembrados. Quem faz arte é arteiro. Fazem o mal ou fazem o bem.Depende da poção mágica que o instrumentaliza.

Entre todos os tipos de escritores que conheço e que não são poucos, resta sempre um, esquecido em algum lugar do planeta, em algum site popular ou em alguma página de caderno, arrancada com a única finalidade de expressão.
A escrita é como o êxtase : depois de muito esforço, em que as palavras negociam umas com as outras, o texto fica pronto. Parece-nos que ele, o tecido 
( de tecer o texto ) revelado, relaxa ou dorme entre suas linhas ocultas.

Ás vezes, fica por terminar. Não é lei que se termine. A escrita tem essa vantagem. Você pode deixar uma parte para o depois. Um capítulo para o momento seguinte. Ainda apaga, deleta facilmente um sintagma e o refaz para a próxima edição . Eu diria que os escritores não apenas reescrevem. Eles ressentem o calor da sintaxe.

Cora Coralina escrevia, enquanto fazia doces. Naturalmente, entre um intervalo e outro, surgia o encanto de sua escrituraria. Os doces, penso eu, eram um tipo de pretexto. Monteiro Lobato escrevia porque delirava-se nas fazendas herdadas do avô. O recanto de família o libertava para a escrita. Drummond escrevia porque se dizia faltoso com a sua velha Itabira. No Rio, ele usava essa falta para compensar sua mineiridade. Vinícius de Moraes escreveu muito. Nos intervalos, tomava um uísque e ficava tudo bem. Adélia Prado, minha ilustre senhora de Divinópolis, escreve ainda hoje sob o pretexto de que a mulher ama. O amor é uma provocação.
A escrita de Adélia provoca.

A minha relação com a escrita tem esse Talvez: todo escritor deve ter o seu pretexto, seja ele de amor ou de descontentamento. Escreve-se para se salvar. Clarice Lispector amaldiçoou-nos com isso.
Entre meus pretextos ficam algumas lacunas. No entanto, venho escrevendo desde menina e sinto que os pretextos mudaram. Alguns textos que rascunho servem como resultado. São pós-textos de muitas intimidades.
Entre elas, inumeráveis, salvo-me de um mundo  feroz, justamente do caos em que virou tentar ser feliz.

Este é o preço que nós, que escrevemos à marginal dos sonhos dos outros  pagamos : enquanto tentamos nos salvar dessa maldição, acabamos por enfeitiçar alguns e desapontar outros.
Paciência! No pŕoximo dia do escritor, eu prometo tentar distinguir o que agrada do que aperta o calo, incomodando.

O fato é que , no mais tardar, cada um acaba percebendo a sua maldição , escrevendo...
É só um questão de tempo!
Para o dia de hoje, na pele de todos os escritores que tentam se salvar, eu faço uma prece :
Senhor, livrai-nos de todo Mal.


     Beijo
                                                                        Marília Mendes