Na
obra O
enterro prematuro,
de Edgar Allan Poe, algumas características tornam-se semelhantes no
estilo do autor, considerado o mais romântico dos principais
escritores americanos. Além de abordar problemas entre o bem e o
mal, Poe envolvia a temática do sofrimento, causado, quase sempre,
pela morte de um amante. Na poesia, ele se destaca pela
musicalidade, dando a impressão de que o som é mais importante que
o sentido, caso do poema O
corvo.
Considerado o “criador” do conto policial, seu principal mérito está na habilidade com que criava suas histórias. Foi o pai das histórias de terror, misturando mistérios e temas macabros, quase sempre finalizados com a morte ou a prisão dos protagonistas, caso do Gato Preto (The Black Cat, 1843). Tzvetan Todorov, em "Introdução à literatura fantástica (2004)", define o fantástico como sendo "a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, em face de um acontecimento aparentemente sobrenatural."
Desse modo, encontramos em
Poe, um conto estranho, que desafia a lógica, impactante pelos
personagens que vivem neuróticos, em cenários escuros, retratando, minimamente, a história semelhante a do autor. O alcoolismo fez
parte da sua história como a do narrador do Gato Preto; a esposa
morreu tísica, o que contribuiu para o seu delírio. Seus
personagens são marcados pelo sofrimento e pela morte. Seus contos
têm traços góticos muito bem delineados.
O
que os os contos lidos no Enterro Prematuro têm em comum? A
lucidez que se opõe à loucura, os crimes, o foco narrativo em 1ª
pessoa e os contos em forma de manuscritos do narrador-personagem.
O gato preto é a história de um bondoso homem que parece sofrer de uma perturbação mental causado pelo álcool, amante dos animais que se torna cruel, fazendo maldades com o seu gato. A sua loucura e perseguição para matar o gato acaba fazendo com que ele mate sua própria esposa e age friamente emparedando o corpo. Todos os acontecimentos desse conto giram ao redor do gato.
Gostava muito de animais, e meus pais me deixavam ter grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e nunca me sentia tão feliz como quando os alimentava ou os acariciava. Com o tempo, essa particularidade de meu caráter aumentou e, quando me tornei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. (POE, 2005, p.11)
Em O poço e o pêndulo é contada a história sofrida de um homem preso e torturado fisicamente e psicologicamente pela Inquisição. E mesmo sem chance de escapar ele tenta permanecer vivo.
"A morte", disse a mim mesmo. "Qualquer morte, menos a do poço!" Insensato! Como não pude compreender que era para o poço que o ferro em brasa me levava? Resistiria eu ao seu calor? E, mesmo que resistisse, suportaria sua pressão? E cada vez o losango se aproximava mais, com uma rapidez que não me deixava tempo pra pensar. (Poe,2005, p.98)
Concentrado
no terror psicológico, os contos de Edgar Allan Poe trazem
personagens bizarros, como o protagonista que sofria de
catalepsia (sono profundo), o que o torna temeroso, diante da
possibilidade de ser enterrado vivo. Em um de seus ataques,
caracterizados por notável profundidade psicológica, dentro de uma
caixa escura, o narrador tem uma crise de surto. O medo da
morte e as peças pregadas pelo cérebro causam uma conclusão
precipitada na tentativa de entender a realidade. Em situações
claustrofóbicas, o personagem pode ser a representação do próprio
autor.
Em
"O coração delator", um homem, louco, que
se diz um servo fiel do seu amo, um homem já em idade avançada, mas
que já não aguenta mais a tortura de dia após dia ter que olhar
para um rosto envelhecido e ver um olho com catarata, voltado em sua
direção. Seria o olho a causa da sua fúria? Interessante apontar
para a falta de um olho no gato preto, característica relevante que confirma a
maior crueldade do narrador, ao arrancar o olho do animal. Seria
o olho, nos dois contos (O gato preto e O coração delator), uma espécie de símbolo da visão obscura que o autor tinha
sobre a vida e, quem sabe, sobre a própria vida? Entretanto, todo
rancor pelo idoso, não se esgota no olho mas, sim , no coração,
metaforizado pelo aspecto delator.
Em forte semelhança com o
gato preto, O coração delator também desdobra a maldade, a
loucura e o desespero de personagens sobrenaturais, que deram a Poe o
título de mestre do gênero do terror e o pai da literatura
policial.
Simplesmente,
genial!
Professora Marília Mendes
Referências
POE,
Edgar Allan. Biblioteca Universal Estados Unidos: Contos. São Paulo,
Três, 1974, p. 09-15
TODOROV, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2004.
< http://www.webartigos.com/artigos/a-literatura-fantastica-de-edgar-allan-poe/72938/>
Sinopse do conto Berenice, de Edgar Allan Poe
O título do conto, resumido em apenas um nome, já aponta a importância da personagem Berenice para o narrador Egeu. Os dois crescem juntos no antigo solar da família. Nas primeiras fases da vida, Berenice é bela, ágil e alegre, enquanto Egeu apresenta-se recluso e entregue a atenções extremas por decifrações teóricas, bem como por banalidades do dia a dia.
Usando
o poder que lhe é conferido como narrador personagem, Egeu justifica
seu afastamento da realidade pela excessiva dedicação aos livros;
descrevendo seu comportamento, delineia para si um perfil de monomania.
Em contrapartida, Berenice era descrita como um ser cheio de vivacidade e
transbordante de beleza, sendo evocada romanticamente pelo narrador
como “sílfide entre arbustos” e “náiade entre as suas fontes”. Com o
passar dos anos, o que seria fantasia passa a ser vivido como o real
para Egeu; e o real passa a ocupar o lugar dos sonhos.
Inesperadamente,
na vida adulta, Berenice é acometida por um mal, que a transforma
totalmente. A doença inicia como um problema mental, que gradativamente
vai atingindo seu estado físico, tirando-lhe toda a beleza e
jovialidade. Esta Berenice da maturidade terá a fisionomia,
abruptamente, aproximada do real, não cabendo, assim, em um mundo de
devaneios, ocupado por “sílfide” e “náiade”. Neste momento, Egeu tem seu
olhar despertado para algo que permanece intacto em Berenice, os seus
dentes. E assim, ele terá sua atenção totalmente voltada para este
sorriso, fixando, doentiamente, seus pensamentos nisto.
Tudo
indica que na casa onde vive Egeu realizam-se todos os ciclos da sua
existência. Este espaço real do conto é descrito como um lugar de
nascimento e de morte, de fim e de recomeço. Seria assim com Berenice,
ali ela nasceu e viveu a maior parte da sua vida, tendo recebido, também
ali, o decreto de sua morte. Obcecado pela Berenice da infância e
juventude, Egeu quebrará este ciclo, invadindo um sepulcro para tomar
posse do único elo que o faria reaver a sua Berenice. Espantoso!
http://eguelman.blogspot.com.br/2012/06/berenice-conto-de-edgar-allan-poe.html
Referência: