12 abril 2015

 ATIVIDADE QUE ANALISA O TERMO COXINHA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA.


As manifestações que se proliferam Brasil afora deixaram, em São Paulo, marcas muito maiores do que a vitória do Movimento Passe Livre, que conseguiu reduzir em R$ 0,20 o preço da passagem nos transportes públicos. Incluiu mais um significado à palavra “coxinha” e ao verbo “coxiinhar” para, no futuro, ser sintetizada nos dicionários.
Por agora, no calor dos pneus em chamas, entre balas de borracha e gás de pimenta, o cientista social Leonardo Rossatto e o professor de Português Michel Montanha, de Santo André, no ABC paulista,  fazem uma “análise sociológica” do significado do termo, aplicado à definição de quem integra “um grupo social específico, que compartilha determinados valores”, segundo o texto.
TEXTO 01

COXINHA- UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA

Um fenômeno se espalha com rapidez pela megalópole paulistana: os “coxinhas”. É um fenômeno grandioso, que proporciona uma infindável discussão. A relevância do mesmo já faz com que linguistas famosos se esforcem em entender a dinâmica dialetal usado por esse grupo, inclusive.
O coxinha é um fenômeno sociológico disseminado em vários lugares, mas, por enquanto, só “assumido” em São Paulo (em outras cidades, os coxinhas ainda devem ter outros nomes). Não por acaso, tendo em vista que São Paulo é um dos ambientes mais individualistas do Brasil.
São Paulo é uma das cidades mais segregadas do país. É uma cidade de grande adensamento no centro, com as regiões ricas isoladas da periferia. A exclusão é uma opção dos mais ricos. Eles não querem se misturar com o restante da população. E, nos últimos anos, isso ficou mais difícil: não dá mais pra excluir meramente pelo poder econômico. Daí, é necessário expor um personagem, torná-lo um padrão, pra disseminar essa mentalidade individualista e conservadora: é aí que surge o coxinha.
E isso é bom. Porque o coxinha, hoje, é exposto ao ridículo pelo restante da sociedade. Até algum tempo atrás, ele era apenas um personagem latente. Ele não aparecia, portanto, não podia ser criticado ou ridicularizado. No final, o surgimento dos coxinhas só reflete a mudança do nosso perfil social. E, por incrível que pareça, o amadurecimento de nossa sociedade.

Disponível em<http://saraiva13.blogspot.com.br/2013/06/o-coxinha-uma-analise-sociologica.html>Acesso em 19/03/2015. (fragmento adaptado)

TEXTO 02
Observa-se que palavras gírias já se apresentam nos textos jornalísticos, e, em muitos casos, sem nenhuma marca gráfica (do tipo aspas, itálico, negrito) que demonstre ser um item lexical de um outro registro linguístico. Com isto, percebe-se que a gíria de grupo torna-se gíria comum e, por sua força expressiva, termina sendo utilizada na escrita formal, mesmo quando há recomendações para redigir-se os textos.
O uso da gíria já não causa tanta celeuma em vários setores da sociedade moderna. Os estudos sociolingusticos e a flexibilização dos costumes permitem que o vocabulário gírio seja enfocado didaticamente, como uma opção a mais de comunicação. O tipo de gíria aceito socialmente é a gíria comum, muito encontrada até na imprensa escrita.
Raramente a gíria encontrada nesse tipo de imprensa aparece com algum sinal gráfico que sinalize a sua concernência a outro registro linguístico; podemos até, em certos casos, atribuir isso à não consciência do jornalista ou do revisor de que se trata de uma expressão gíria. Além da diminuição do preconceito e da quebra dos tabus, a gíria é mais um recurso que o redator possui, para aproximar-se do leitor ou obter o efeito semântico desejado.

Vocabulário: (ce.leu.ma)
sf.
1. Fig. Debate intenso, acirrado: A proposta provocou celeuma.
Disponível em <http://www.aulete.com.br/celeuma#ixzz3V2uAh4MV>Acesso em 19/03/2015.

(Créditos das questões: Professora Marília Mendes)

01.Como nossa língua vive em constante processo de mudança, a variedade linguística existente no Brasil, com o passar do tempo, foi modificada por fatores sociais, regionais, profissionais, grau de escolaridade, gênero, idade. Em relação à leitura dos dois textos acima, IDENTIFIQUE que tipo de mudança se apropria ao uso do termo COXINHA, tendo em vista as seguintes mudanças: Variação diatópica (observa as características das regiões de uma mesma língua), Variação diastrática (ocorre de acordo o grupo social em que a pessoa vive) e/ou Variação diacrônica (aquela que observa no decorrer dos anos a mudança na maneira de falar das pessoas do mesmo grupo social e da mesma região). JUSTIFIQUE sua resposta.

As mudanças observadas no emprego do termo coxinha estão relacionadas aos três tipos de variação, uma vez que SP marca a nova forma neológica do termo, embora sua rápida repercussão, através da mídia, também tenha contribuído para a recorrência do uso em outras regiões do país. No que diz respeito às camadas sociais que fazem uso do termo, consideramos que há aspectos sociais entre os falantes  bastante oscilantes e também flexíveis, o que marca sua abrangência em diferentes grupos sociais. Pelo tempo de uso do termo, no entanto, consideram-se os aspectos histórico-sociológicos, que reforçam as modificações semânticas, tendo em vista a apropriação desse termo nas redes sociais, bem como nas manifestações dos últimos anos. 

02.  As gírias representam mudanças sociais e ideológicas, que são refletidas na língua e nos signos linguísticos responsáveis pela interação social. Elas retratam as condições histórico-sociais dos falantes, a sua instância de enunciação e, por isso, podem ser consideradas ideológicas. De acordo com o texto 01, QUAIS SÃO OS FATORES que participam da constituição de uma formação ideológica, considerando o termo coxinhas no contexto em que foi empregado.


Coxinha é um termo pejorativo usado na gíria e serve para descrever uma pessoa "certinha", "arrumadinha".Tendo a sua origem em São Paulo, a palavra coxinha quase sempre tem um sentido depreciativo e indica um indivíduo conservador, que é politicamente correto e que se preocupa em adotar comportamentos que são aceitos pela maioria das pessoas, mas questionáveis pelos movimentos de rua que se firmaram nos últimos anos. Em resumo, a região, os indivíduos, o comportamento e as crenças políticas e partidárias de determinados grupos contribuem para formar um conjunto de ideias que caracterizam classes e tendências.

 (Professora Marília Mendes/abril de 2015)