Antropofagia de Tarsila do Amaral |
“(...) Malditos para sempre os Mestres do Passado! Que a simples recordação de um de vós escravize os espíritos no amor incondicional pela Forma! Que um olhar passeando por acaso nos vossos livros se cegue a procura de um verso de ouro! Que uma flor tombada de umas mãos infantis sobre vosso túmulo rebente em silvas de tais espinhos que nelas se fira e sucumba a ascensão dessa infância! Que o Brasil seja infeliz porque vos criou! Que a Terra vá bater na Lua arrastada pelo peso dos vossos ossos! Que o Universo se desmantele porque vos comportou!
E que não fique nada! Nada! Nada!....”
Mário de Andrade, Mestres do Passado
Renovação artística e política no centenário da Independência do Brasil, o Modernismo, enquanto movimento de maior expressividade em 1922, data a semana que teve como cenário o Teatro Municipal. As novidades futuristas de Oswald de Andrade, o expressionismo de Anita Malfatti, a Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade serviram como ponto de partida para grandes manifestações em defesa de uma língua sem arcaísmos, a favor da invenção e dos valores populares, sem o rigor das formas eruditas.
Neste período, os artistas reuniam ideias acerca do reconhecimento do produto nacional no lugar do importado. As revistas e os manifestos sacudiram São Paulo e todo o país para as novas tendências que surgiam, sendo a " alegria, a prova dos nove", contrapondo-se à catequese, que viria a ser substituída pelo prestígio da folia do Carnaval.
O Antropofagismo apostava na união social e filosófica da nação. As questões estavam envoltas ao rompimento do tradicionalismo, desacreditado pela livre associação de ideias irreverentes, que aproximavam a poesia da prosa. Ao mesmo tempo, a linguagem coloquial representava o cotidiano da sociedade brasileira . Era do jeito que era, sem as elaborações que a fizessem perder o aspecto folclórico de uma formação cultural.
Macunaíma, o índio negro, viria a ser a recriação da malandragem e a falta de caráter de um anti-herói no sadismo e na crueldade que dele faziam parte. A linguagem, ainda que carregada de infrações, foi, de fato, renovada. Em nova síntese, o nacionalismo se alimentava de humor. O poema-piada foi instituído e o convencionalismo estava fadado à sátira em forma de poemas-pílulas.
Quase um século já se passou. A poesia declamada ainda emociona o brasileiro como se fosse ontem. Nomes como Mário de Andrade, oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, entre outros, tornaram-se grandes influências para o Tropicalismo e para a Bossa Nova. São 90 anos que deixaram uma herança de atitude e valores históricos para o país. O calo inflamado de Villa- Lobos continuaria a incomodar o público, a arte,a música, a poesia e toda a emoção estética da Arte Moderna.