18 outubro 2015

Neste último sábado, tivemos o 2º Módulo do Curso de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) na UFRJ. Desta vez, fiz uma abordagem sobre a língua de sinais, considerando que cada país tem a sua própria língua gestual. No panorama das línguas de sinais, observamos que:

1.Tomando como exemplo alguns países lusófonos, vemos que utilizam diferentes línguas de sinais: no Brasil existe a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em Portugal existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP), em Angola existe a Língua Angolana de Sinais (LAS), em Moçambique existe a Língua Moçambicana de Sinais (LMS);
2. Existem variações linguísticas dentro da própria língua de sinais, isto é, regionalismos e/ou sotaques;
3. Há uma língua de sinais pretensamente universal, análoga ao Esperanto, conhecida como Gestuno, que é usada em convenções e competições internacionais;
4. Embora haja semelhanças ou aspectos comuns entre as línguas de sinais, devido a um certo contágio linguístico, as línguas de sinais são autônomas, não derivando das orais, e possuindo peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas orais. Neste estudo, a difusão do alfabeto dactilológico de uma só mão entre os ouvintes gerou a pressuposição de que esse alfabeto é a própria língua de sinais, que há uma única língua de sinais e que essa língua é universal. No entanto, o alfabeto dactilológico é apenas um suplemento das línguas de sinais, cuja função é a soletração de palavras das línguas orais, tais como nomes próprios, siglas, empréstimos, etc.


De acordo om o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), o alfabeto dactilológico usado atualmente no Brasil é um conjunto de 27 formatos, ou configurações diferentes de uma das mãos, cada configuração correspondendo a uma letra do alfabeto do português escrito, incluindo o “Ç”.

Nossa problemática partiu da seguinte proposição: Qual é a relação das unidades fraseológicas com a língua de sinais no contexto brasileiro?
O critério de seleção das sessões gravadas para compor o corpus deste trabalho nas interpretações feitas durante o 1º Expediente foi satisfatório?
O objetivo do trabalho foi investigar as estratégias de interpretação utilizadas no processo tradutório da língua portuguesa para a língua de sinais (Libras), em interpretações que envolvem unidades fraseológicas (UF's).
Consideram-se as diferentes modalidades das línguas- articulação diferente (oral-auditiva e viso-espacial).
QUESTÕES MOTIVADORAS
l .Como o intérprete de Libras faz para interpretar UF’s da língua portuguesa para a Libras?
lI. Quais estratégias de interpretação são utilizadas pelos intérpretes de língua de sinais na interpretação de UF’s da língua portuguesa para a Libras?
Quanto à análise dos dados, como corpus para a investigação, utilizaram as gravações de sessões plenárias da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, entre o período de fevereiro de 2008 a dezembro de 2010. O critério de seleção das sessões gravadas para a composição do corpus foi escolher duas sessões plenárias de cada TILSP. Participaram como sujeitos, seis profissionais tradutores "Intérpretes de Libras”, ligados à Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes de Libras do Ceará (Apilce).


Análise dos dados
Deputado 01: EM VERDADE EM VERDADE VOS DIGO
TILS: AGORA VERDADE AVISAR
Redução de informação/quebra do grau de rebuscamento e formalidade exigido na UF.
Possibilidades:
1) Dificuldade de interpretação por parte do TILS;
2. Não há recuperação da origem da palavra em seu conhecimento linguístico, cultural, social, religioso (possiblidade + remota)
Deputado 02: Hoje certamente é DIA DE LUTO para...
TILS: HOJE É NÓS- Todos TRISTE
LUTO IGUAL PRETO NÓS LEMBRAR
Sinalização de três momentos distintos:
1º) ele diz que todos estão tristes (informaçaõ acrescentada ao texto);-----------; EXPLICITAÇÃO;
2º) O tradutor-intérprete utiliza o alfabeto manual (USO DE RECURSOS VISUAIS);
3ª) O TILS faz uso da PARÁFRASE EXPLICATIVA
Deputado 03: Hoje certamente é DIA DE LUTO para...
TILS: HOJE É NÓS- Todos TRISTE
LUTO IGUAL PRETO NÓS LEMBRAR
Sinalização de três momentos distintos:
1º) ele diz que todos estão tristes (informação acrescentada ao texto);-----------> EXPLICITAÇÃO;
2º) O tradutor-intérprete utiliza o alfabeto manual (USO DE RECURSOS VISUAIS);
3ª) O TILS faz uso da PARÁFRASE EXPLICATIVA

Concluímos que a análise do corpus aponta para duas estratégias de interpretação mais frequentes: a PARÁFRASE e a OMISSÃO.
Os dados apresentados nesse estudo nos apontam a necessidade de mais pesquisas acerca da prática tradutória do profissional tradutor intérprete de língua de sinais, estudos que possam auxiliá-lo na sua prática profissional. Como ponto de partida para uma proposta pautada na reflexão e na necessidade de aprofundamento, este foi um trabalho bem diferente dos demais já apresentados e contribuiu para a elucidação de que, como qualquer outra língua, ela sofre variações linguísticas e não se trata apenas de uma lista de mímicas ou gestos soltos, sendo formada por uma estrutura gramatical própria para o ensino dos surdos. Que venha o próximo módulo.


Professora Marília Pereira Mendes-
Mestre em Linguística Aplicada pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)-
Área de concentração: Ensino do português
Referências

LEMOS, A. M. As estratégias de interpretação de unidades fraseológicas do português para a Libras em discursos de
políticos.2012.175f.Dissertação(MestradoemLinguística Universidade
 Federal do Ceará, Fortaleza,2012.

NOVAIS, L. O intérprete de tribunal, um mero intérprete?:Um estudo descritivo sobre o papel do intérprete nos fóruns de Boa Vista,RR e Fortaleza,CE.2002.397p.Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada).Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará.

Ao final da apresentação, houve a exibição de um vídeo que está relacionando a língua de sinais à música de Paul MCCartney.