Neste
último sábado, tivemos o 2º Módulo do Curso de Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS) na UFRJ. Desta vez, fiz uma abordagem sobre a língua de
sinais, considerando que cada país tem a sua própria língua
gestual. No panorama das línguas de sinais, observamos que:
1.Tomando como exemplo
alguns países lusófonos, vemos que utilizam diferentes línguas de
sinais: no Brasil existe a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em
Portugal existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP), em Angola existe
a Língua Angolana de Sinais (LAS), em Moçambique existe a Língua
Moçambicana de Sinais (LMS);
2.
Existem variações linguísticas dentro da própria língua de
sinais, isto é, regionalismos e/ou sotaques;
3.
Há uma língua de sinais pretensamente universal, análoga ao
Esperanto, conhecida como Gestuno,
que é usada em convenções e competições internacionais;
4.
Embora haja semelhanças ou aspectos comuns entre as línguas de
sinais, devido a um certo contágio linguístico, as línguas de
sinais são autônomas, não derivando das orais, e possuindo
peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas
orais. Neste
estudo, a difusão do alfabeto
dactilológico de uma só mão entre os ouvintes gerou a
pressuposição de que esse alfabeto é a própria língua de sinais,
que há uma única língua de sinais e que essa língua é universal.
No entanto, o alfabeto dactilológico é apenas um suplemento das
línguas de sinais, cuja função é a soletração de palavras das
línguas orais, tais como nomes próprios, siglas, empréstimos,
etc.
De
acordo om o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), o
alfabeto dactilológico usado atualmente no Brasil é um conjunto de
27 formatos, ou configurações diferentes de uma das mãos, cada
configuração correspondendo a uma letra do alfabeto do português
escrito, incluindo o “Ç”.
Nossa
problemática partiu da seguinte proposição: Qual é a
relação das unidades fraseológicas com a língua de sinais no
contexto brasileiro?
O
critério de seleção das sessões gravadas para compor o corpus
deste trabalho nas interpretações feitas durante o 1º Expediente
foi satisfatório?
O
objetivo do trabalho foi investigar as estratégias de interpretação
utilizadas no processo tradutório da língua portuguesa para a
língua de sinais (Libras), em interpretações que envolvem unidades
fraseológicas (UF's).
Consideram-se
as diferentes modalidades das línguas- articulação diferente
(oral-auditiva e viso-espacial).
QUESTÕES
MOTIVADORAS
l
.Como o intérprete de Libras faz para interpretar UF’s da língua
portuguesa para a Libras?
lI.
Quais estratégias de interpretação são utilizadas pelos
intérpretes de língua de sinais na interpretação de UF’s da
língua portuguesa para a Libras?
Quanto
à análise dos dados, como corpus para a investigação, utilizaram
as gravações de sessões plenárias da Assembleia Legislativa do
Estado do Ceará, entre o período de fevereiro de 2008 a dezembro de
2010. O critério de seleção das sessões gravadas para a
composição do corpus foi escolher duas sessões plenárias de cada
TILSP. Participaram como sujeitos, seis profissionais tradutores
"Intérpretes de Libras”, ligados à Associação dos
Profissionais Tradutores e Intérpretes de Libras do Ceará (Apilce).
Análise
dos dados
Deputado
01: EM VERDADE EM VERDADE VOS DIGO
TILS:
AGORA VERDADE AVISAR
Redução
de informação/quebra do grau de rebuscamento e formalidade exigido
na UF.
Possibilidades:
1)
Dificuldade de interpretação por parte do TILS;
2.
Não há recuperação da origem da palavra em seu conhecimento
linguístico, cultural, social, religioso (possiblidade + remota)
Deputado
02: Hoje certamente é DIA
DE LUTO para...
TILS:
HOJE É NÓS- Todos TRISTE
LUTO
IGUAL PRETO NÓS LEMBRAR
Sinalização
de três momentos distintos:
1º)
ele diz que todos estão tristes (informaçaõ acrescentada ao
texto);-----------; EXPLICITAÇÃO;
2º)
O tradutor-intérprete utiliza o alfabeto manual (USO DE RECURSOS
VISUAIS);
3ª)
O TILS faz uso da PARÁFRASE EXPLICATIVA
Deputado
03: Hoje certamente é DIA
DE LUTO para...
TILS:
HOJE É NÓS- Todos TRISTE
LUTO
IGUAL PRETO NÓS LEMBRAR
Sinalização
de três momentos distintos:
1º)
ele diz que todos estão tristes (informação acrescentada ao
texto);-----------> EXPLICITAÇÃO;
2º)
O tradutor-intérprete utiliza o alfabeto manual (USO DE RECURSOS
VISUAIS);
3ª)
O TILS faz uso da PARÁFRASE EXPLICATIVA
Concluímos que a análise do corpus aponta para duas estratégias de interpretação mais frequentes: a PARÁFRASE e a OMISSÃO.
Os
dados apresentados nesse estudo nos apontam a necessidade de mais
pesquisas acerca da prática tradutória do profissional tradutor
intérprete de língua de sinais, estudos que possam auxiliá-lo na
sua prática profissional. Como ponto de partida para uma proposta
pautada na reflexão e na necessidade de aprofundamento, este foi um
trabalho bem diferente dos demais já apresentados e contribuiu para a elucidação de que, como qualquer outra língua, ela sofre variações linguísticas e não se trata apenas de uma lista de mímicas ou gestos soltos, sendo formada por uma estrutura gramatical própria para o ensino dos surdos. Que venha o próximo módulo.
Professora
Marília Pereira Mendes-
Mestre
em Linguística Aplicada pela
Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG)-
Área
de concentração: Ensino do português
Referências
LEMOS,
A. M. As estratégias de interpretação de unidades fraseológicas
do português para a Libras em discursos de
políticos.2012.175f.Dissertação(MestradoemLinguística
Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza,2012.
NOVAIS, L. O
intérprete de tribunal, um mero intérprete?:Um estudo descritivo
sobre o papel do intérprete nos fóruns de Boa Vista,RR e
Fortaleza,CE.2002.397p.Dissertação (Mestrado em Linguística
Aplicada).Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará.
Ao final da apresentação, houve a exibição de um vídeo que está relacionando a língua de sinais à música de Paul MCCartney.