08 abril 2011




O Rio de Janeiro que sussurra " O rio de Janeiro continua lindo..."calou-se ontem depois da tragédia do Realengo.O luto é um protesto envergonhado, ensimesmado pelo "brincar de mocinho e bandido " num jogo insano, sem ter graça...e o abraço é o abraço dos pêsames que não cessam de cair sobre sua terra e sobre seu mar.O Redentor exaspera-se.

Embora tenha tomado conhecimento do fato no café, por volta das 10 da manhã, ver aquelas imagens um pouco distorcidas, à noite, mas bem focadas na tragédia, trouxeram-me muita dor. Eu sou do tempo em que as crianças iam à escola por amor ao assistir aquela aula querida,lugar onde se sentiam firmes, ainda que o mundo desabasse lá fora.De um tempo em que tiroteio era coisa de cinema. Mas na vida real, não dava para fazer igual.Tempo em que ex-alunos voltavam para abraçar os professores e colegas de tanta saudade.Tempo em que alguns, até fugiam da escola por diversão, mas não por desespero.

Com toda essa história que trago da sala de aula e com todo zelo e amor que tenho pela educação, ainda com todos os problemas que esse setor enfrenta no país, a tristeza deixou-me comovida. São cenas de terror e medo, envolvendo crianças e adolescentes que, ao contrário do que deveria ser, não estavam seguras, não deixaram a escola com alegria e nem poderão lembrar jamais dessem dia com saudade.
A violência foi um surto.Um louco desvairado, incógnita para a população e para a própria família e para o resto do mundo, um sem -ninguém, sem amor e sem moral, capaz de reverter a ordem do dia de tantas famílias brasileiras.

Desespero vê-las ali, correndo e gritando, pedindo ajuda.
Esse modelo americano de compensar a vida de tantos,d esumanamente descompensados, essa mania de viver pela cópia, de querer ser original e deixar um rastro de fama é imunda. É maldade sem tamanho dividir essa tristeza com jovens tão cheios de vida e tão vulneráveis à violência.

Detenho-me a essa dor. Imaginei que iria acordar e ver um novo sol. Foi muito diferente .A dor não quer passar. As crianças estão ali, desprotegidas ainda, na memória. Permanecerão nessa cena,vítimas, sem o poder da defesa. Diante da morte cruel e premeditada, não há resposta.Sou tomada de um silêncio que me repugna de hora em hora.E eu que me achava forte, estou pouco resistente a essa dor.O cristo redentor, simbolicamente, derrama sua lágrimas.Por cima, certamente, ele queria essa vista privilegiada para o amor, não para o seu contrário. O Cristo chora e vê de tão alto, uma população sôfrega e um vazio no coração de cada mãe que perdeu o seu filho, sem acreditar que estavam todos tão unidos e seguros e, de repente, a mercê de um tiroteio, de um acerto de contas com a covardia, porque, definitivamente, isso não pode ser coisa de Deus.
                                                                                Marília Mendes