07 novembro 2011


"Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole, outra vez
Não dava mole à tua pessoa
Te abandonava prostrado a meus pés
Fugia nos braços de um outro rapaz
Mas acontece que eu sorri para ti
E aí, larari, lairiri..."

Chico mistura o Blues e a Bossa , além do Samba e do rap. Sua voz surge vibrando, quando ele inicia “ Velho Francisco” e abre uma nova e velha história no cenário de Oscar Niemeyer. Por trás dele,” A mulher nua”, arquitetada entre “ O bloco carnavalesco” e “ O circo” de Portinari.

Resgatado das canções das sombras, como nos “anos de chumbo” da década de 70, do Ato Institucional nº 5 (AI-5), dada sua oposição ; a Anistia que não “ampla”, nem “geral” nem “irrestrita” como era de defesa na época; as “Diretas Já”; a voz da democracia, e tantas outras heranças com que o velho e sempre Chico sabe presentear seu público fiel, ele marcou o final de semana na capital mineira e aplaudido de pé, em muitos momentos, ele determinou a alegoria do repertório que trouxe a BH.


Fosse o velho tipo malandro, do perfil carioca dos anos 60, que durante muito tempo fez seu caminho, A Ópera do Malandro; obstinação de um letrista que ergue bandeiras partidárias e quando vence o acre da ditadura e apaixona-se, revela-se em muitas letras, sob um eu-lírico feminino, a volta livre de todas as imposições, soprando novas canções aos ouvidos de uma plateia fidedigna. Canções como “Sinhá”, “Querido diário”, “Nina”, “Barafunda”, “Se eu soubesse”, “Essa pequena” do novo CD foram intercaladas com velhos sucessos, de outros tempos e contextos, intertextualizando parcerias com Tom Jobim, Edu Lobo e mesmo na irreverência do rap do Criolo, que ele trouxe ao palco, na fusão social e histórica da canção Cálice. De fato, uma paixão proposital.


Verdadeiramente, um ídolo, um fascínio que me eleva nas letras , tirando do caminho, qualquer pedra entendida como desamor. Ele, que se popularizou entre as mulheres, que fez placa entre os políticos e sobe ao palco depois de 06 anos em Minas, para reunir do velho e do novo, a paixão e a sensualidade, em metáforas tão polêmicas como a de “uma mulher sem orifício”. A não-cor do seu figurino, não é luto minha gente, nem protesto contra corrupção. Desta vez, ele veio para amar, para mostrar os inúmeros caminhos que suas letras alcançam, dando todas elas no mesmo endereço : é essa pluralidade de chico que o individualiza e é por ela que eu vivo me apaixonando.

Eu torcia por esse show, Chico. Ele nos pertencia desde há muito.



                                            Professora Marília Mendes