Hoje é dia de reverenciar o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), já que ele estaria completando, exatamente 109 anos, no dia 31 de outubro. Lembrar sua obra e trazê-la para as redes sociais tornou-se orgulho dos mineiros e de todos os brasileiros que têm poesia na alma.
Na oportunidade, lembro o dia do livro, comemorado sábado, com a enumeração de muitos nomes e ideias que circularam por toda a rede , reiterando a importância da nossa literatura e da formação de leitores, bem relacionados com os grandes escritores que, assim como Drummond, trouxeram realidade e sentimento ao mundo através dos versos. A poesia socializa, contextualiza e sensibiliza.
Lembro com grande paixão O projeto Caminhos drummondianos, na história de Itabira, feito com alunos de Belo Horizonte, há tantos anos e por inúmeras vezes, em aulas que foram criadas fora da sala. As placas foram revitalizadas pela Vale e todas as cidades que têm ligação com a poesia drummondiana, como Belo Horizonte, Mariana, Rio de Janeiro e distritos de Itabira terão a marca da poesia do inesquecível itabirano Carlos Drummond de Andrade.
A Companhia das Letras começa a reeditar toda a obra do escritor para 2012, na comemoração dos seus 110 anos. Drummond também será homenageado em Paraty , cujo flip do próximo ano, ficará por conta da sua vasta obra.
E agora, Drummond? você, tão confidente das palavras que mudam o rumo de tanta poesia ou de tanta poesia que transforma as palavras, ficaria alegre ao ver que a sua memória é grande e segue entre tantos, orgulhosa, de ferro, muito além de uma fotografia na parede.
Professora Marília Mendes
Amar
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Na oportunidade, lembro o dia do livro, comemorado sábado, com a enumeração de muitos nomes e ideias que circularam por toda a rede , reiterando a importância da nossa literatura e da formação de leitores, bem relacionados com os grandes escritores que, assim como Drummond, trouxeram realidade e sentimento ao mundo através dos versos. A poesia socializa, contextualiza e sensibiliza.
Lembro com grande paixão O projeto Caminhos drummondianos, na história de Itabira, feito com alunos de Belo Horizonte, há tantos anos e por inúmeras vezes, em aulas que foram criadas fora da sala. As placas foram revitalizadas pela Vale e todas as cidades que têm ligação com a poesia drummondiana, como Belo Horizonte, Mariana, Rio de Janeiro e distritos de Itabira terão a marca da poesia do inesquecível itabirano Carlos Drummond de Andrade.
A Companhia das Letras começa a reeditar toda a obra do escritor para 2012, na comemoração dos seus 110 anos. Drummond também será homenageado em Paraty , cujo flip do próximo ano, ficará por conta da sua vasta obra.
E agora, Drummond? você, tão confidente das palavras que mudam o rumo de tanta poesia ou de tanta poesia que transforma as palavras, ficaria alegre ao ver que a sua memória é grande e segue entre tantos, orgulhosa, de ferro, muito além de uma fotografia na parede.
Professora Marília Mendes
- Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.