08 outubro 2011

Faça o que puder, com o que tiver, onde estiver.
(Theodore Roosevelt )
 

Eu abro a postagem de hoje com uma frase que muito me incentiva em diferentes fases . Hoje, em especial, depois de esforços muito significativos, enfrentando desafios comuns , mas antenada para conquistas que surgem na vida do ser humano, independente das forças opostas. 

Mirando-me na figura desse sueco, que aos 80 anos, conquista um prêmio de Literatura,  já  almejado há anos. Exemplo de vida e de amor à poesia.

O poeta sueco Tomas Tranströmer foi anunciado  como o escolhido para receber o prêmio Nobel de Literatura 2011. Natural de Estocolmo, provocou comoção pelas suas limitações e, em contrapartida, pela sua  força e coragem.

Um dos poetas mais importantes da Suécia, Tanströmer nasceu em 1931 e lançou sua primeira obra, "17 dikter" ("17 poemas"), em 1954. Ele estudou psicologia e poesia  na Universidade de Estocolmo.
Sua obra foi traduzida para mais de 50 idiomas, e inclui títulos como "The great enigma: new collected poems", "The half-finished heaven", "For the living and the dead", "Baltics", "Windows and stones".
Antes do Nobel, Tanströmer já havia sido premiado com o Aftonbladets Literary Prize for Literature, o Oevralids Prize, entre outros.

A poesia não tem fronteiras e é um ofício que permite suas compensações por toda a vida . Ao ler seus poucos versos, traduzidos para o português, identifico uma profunda ligação com os temas preconizados na poesia da mineira Adélia Prado e do mato-grossense Manoel de Barros, entre outros poetas e romancistas que tiveram realce mundo afora com seus caracteres miscigenados de pavor e glória, mas que criaram um Brasil, mais fácil de ser lido e interpretado.. Citar os elementos naturais e como eles estão em comunhão com a nossa vida é um traço elegante na poesia desse sueco premiado e dos poetas brasileiros que dele se aproximam.

Fortalezas medievais,

cidades desconhecidas, esfinges frias,

arenas vazias.

As folhas cochicham:

Um javali está tocando órgão.

E os sinos batem.

E a noite se desloca

de leste para oeste

na velocidade da lua.

Duas libélulas

agarradas uma na outra

passam e se vão

Presença de Deus.

No túnel do canto do pássaro

uma porta fechada se abre.

Carvalhos e a lua.

Luz e imagem de estrelas salientes.

O mar gelado.

(Tomas Tranströmer, vencedor do prêmio Nobel de Literatura 2011).

Em Manoel de Barros, com suas imagens poéticas,
encontro semelhanças em versos tão distantes e, ao mesmo tempo, tão encaixados nos mesmos elementos naturais e sobrenaturais, que unem uma poesia alimentada de imagens, quadros e paisagens.



Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo
— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei
um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas.
E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi.

***

"Vi que o homem não tem soberania nem para ser um bentevi"
Pronto.
Texto extraído do livro (caixinha) "Memórias Inventadas - A Terceira Infância"
.
Em Adélia, verticalmente natural :
Anímico 
 
Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre.
É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.

É dádiva e inspiração. Hoje, em particular, porque também fui premiada duplamente. Sinal de que Deus está nas coisas, na natureza, nas imagens, no ar que respiramos e na nossa coragem, que é o melhor sentido para quem pretende vencer...

O que falta, contudo, para os nossos poetas brasileiros, com seus trabalhos, tão grandiosamente inspirados na história do Brasil, na terra roxa, no mastro sereno da embarcação que povoa nosso pretérito, nosso presente e quem dirá o futuro, obter a graça de uma indicação ao Nobel de Literatura ? Talvez um pouco mais de incentivo à leitura, e muito à educação e à promoção de atividades dinâmicas, que despertem nas crianças , nos adolescentes e nos leitores, o desejo de desvendar esse ímpeto e misterioso anímico poético com que construímos nossas pontes entre os livros e os sonhos.

                                       
Grande beijo Marília Mendes