25 junho 2011

Cambaleando na crônica bem humorada do jornalista Artur Xexéo, eu fiz um tremendo esforço para não comentar entre os 190 comentários postados no seu blog, que eu também não aguento mais o Luan Santana , nem essa versão do sertanejo que invadiu os ritmos musicais e virou febre. É dupla de mais e qualidade de menos. Alteraram todas as características do antigo sertanejo e ainda tentam dar um nome chique a tanta choradeira.
Resolvi contrapor pelo óbvio do que aguento, suavemente, na pura atmosfera literária de que sobrevivem ainda os nossos pequenos leitores e os grandes escritores.
Como é bom abrir o jornal e ainda encontrar prêmios de bom exemplo como o que deu ao fotógrafo Jorge de Moraes em Belo Horizonte, o reconhecimento pela sua ação de solidariedade no Aglomerado da Serra ….Os belo horizontinos aguentaram bem.
É bom aguentar até o fim, um livro, um tanto quanto espesso e ainda recomendá-lo logo ali na frente. Veio um amigo meu em 2010 e saboreou a própria indignação : “- Eu li A menina que roubava livros nesse final de semana. Simplesmente, não consegui me atrever a parar de ler.”
Eu aguento um tanto de bobeirices que emocionam o brasileiro como ver o Fenômeno em 15 minutos no desfecho de um futebol bacana que ele proporcionou aos que amam o futebol. Diga-se de passagem, são milhões aguentando juntos essa mesma emoção chamada Ronaldo.
Aguento ver campanhas que promovem a leitura como aquela Ler está a moda. Aguento ver criancinhas e adolescentes em feiras de livro, insistindo para que seus pais comprem a última edição de um grande clássico.
Aguento fila indiana para ver Paul McCartney no Rio e ainda levantar plaquinha do NA NA NA para homenagear o velho hino Hey Jude. Aguentarei ainda por muitos anos o som dos Beatles na vitrola. Alguém aí diria que não aguenta ?
Aguento filas quilométricas para comprar ingresso nas campanhas de popularização do teatro.Como é bom ir ao teatro e depois tomar alguma coisa para brindar a simplicidade de ter feito parte daquele público.

Aguento ver a vivacidade intocável de Niemeyer, apesar da idade que já pesa muito e visitar suas grandes criações. Um dia desses, caminhando na Pampulha, percebi que aguentamos o ar da Lagoa , tamanha vista privilegiada que foge aos nossos olhos , diferente de quando passamos a pé.

Aguento as chuvas em Brasília, só porque quando tem sol, o céu torna-se o mais azul e mais bonito do território nacional. Aguento as lembranças da Esquadrilha da fumaça , responsável pela avidez do sonho humano de voar e mais, fazer piruetas.

Aguento jazz em fim de tarde, acompanhando um bom drinque com pessoas que também gostam de jazz. Como é chique aos ouvidos contemplar Carol Welsman em duetos.
Aguento, quando alguém telefona e comenta : “-Foi só um susto. Não houve nada. Graças a Deus.”
É valioso reconhecer a fé que ainda motiva as pessoas.
Aguento comida de boteco que tem um sabor especial e, ao mesmo tempo, um aroma dos deuses. Por que será que a comida do boteco cheira mais que a da nossa casa?
Aguento festa junina em que ninguém se veste a caráter. Que mania essa de achar que caipira vive “remendado”...
Aguento ver político corrupto deixar o cargo antes de ser condenado pela opinião pública. O que não aguento são as justificativas “mais ou menos” que são criadas na tentativa de se livrar a cara de um espertalhão. É patético .
Aguento estudantes às ruas, lutando por seus direitos. Aliás, aguento todos os estudantes.Para mim, é uma das classes mais vivas da sociedade.
Aguento Facebook, enquanto se vela o orkut, presenciado por carpideiras, porque ninguém que eu conheça, chora mais o fim sem fim do Orkut. Aguento algumas redes sociais. Outras, que não conheço, não aguentaria mais.
Aguento comidas típicas do inverno, voo para o Rio de janeiro.Ver aquela paisagem em sobrevoo é o certificado real de que o Rio de janeiro continua lindo.
Aguento as férias, chamadas de recesso , no meio do ano. É uma das melhores pausas para algumas categorias. Aguento viajar de trem, comer cachorro quente em plena dieta e ainda exclamar ser a última vez.
Aguento reler as liras de Dirceu a Marília pela ducentésima vez e ainda descobrir um palpite novo. Aguento releituras e musicalidade na voz da literatura brasileira.
Aguento carta de despedida em papel silkado em plena era do eletrônico.

Aguento um pouco do brega e um tanto do chique. Lembrando que aguentar é um exercício em que se mede a nossa capacidade de suportar nossa maior e  mais cruel adversária : a preguiça.
Por falar nisso, vou ali tomar um cafezinho, como boa mineira que sou, porque eu aguento café preto. O que eu não aguento mais, no entanto, é o desmerecimento com os professores do nosso país que investem tanto e depois, não têm a recompensa de por a cabeça no travesseiro e pensar que amanhã, as coisas serão diferentes.
                                           Grande abraço, professora Marília Mendes

Leia a crônica do jornalista Artur Xexéo, inspiradora da minha postagem :

http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/posts/2011/06/19/nao-aguento-385299.asp