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Este artigo apresenta uma análise lexical das
expressões idiomáticas encontradas na mídia impressa popular, no período de
agosto de 2013 a dezembro de 20141,
com o objetivo de mostrar a produtividade lexical no discurso jornalístico,
mais especificamente, das expressões idiomáticas. Analisamos a maneira como
essas unidades complexas podem contribuir para o desenvolvimento da ampliação
lexical qualitativa dos alunos do Ensino Fundamental e Médio, considerando que
tais unidades fazem parte do acervo lexical da língua portuguesa e que, portanto,
devem ser apresentadas no ensino de língua materna. Com o objetivo de mostrar a
produtividade lexical da expressões idiomáticas (EIs) no discurso jornalístico, analisamos a maneira como essas unidades complexas
podem contribuir para o desenvolvimento da ampliação lexical qualitativa
dos alunos do Ensino Fundamental e Médio, considerando que tais unidades fazem
parte do acervo lexical da língua portuguesa e que, portanto, devem ser
apresentadas no ensino de língua materna.
No entanto, cabe destacar, ainda, que a
ocorrência das expressões idiomáticas é mais frequente nas manchetes das
notícias (55,61%), pelo fato de as expressões idiomáticas, enquanto estruturas
da linguagem popular, serem responsáveis pela ênfase que se dá ao fato noticiado.
Por intermédio das manchetes, é possível perceber a que fatos e aspectos o
jornal dá importância, de acordo com o perfil e a realidade do seu
público-alvo. É característica do jornal Super dar um caráter pessoal à
reportagem. Através da personalização, é possível contar a vida de alguém ou do
povo, tornando a notícia próxima ao leitor. O título já aponta para a
singularização, considerando que os jornalistas precisam garantir nas redações
que a imprensa popular faça jornalismo e se democratize.
Os dados mostram que a maior parte das EIs apresentadas no nosso corpus
podem ser consideradas unidades semi-fixas, ou seja, das 187 expressões
analisadas, 75,93% (142) dessas EIs sofreram algum tipo de variação lexical ou
de flexão verbal em sua estrutura. Ora, se o maior número das EIs encontradas
no corpus são consideradas semi-fixas, o grau de fixidez dessas unidades
tende a ser menor. Pelo fato de as expressões idiomáticas serem constituídas
por vários elementos lexicais, elas ensejam grandes possibilidades de variação,
o que relativiza a sua invariabilidade. Porém, há que se considerar que alguns
casos permitem adaptações sintáticas, embora sejam variações bastante
limitadas.
Quadro 01- Produtividade no nível sintático
Soltinha na pista
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Desde
que terminou com o futuro presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, CAROL
MUNIZ ficou soltinha na pista. Após posar para o Paparazzo então,
ela tem feito ainda mais sucesso. (Jornal Super Notícia. Belo Horizonte, ano
13, 28 de novembro de 2014, p.16. Caderno de Variedades).
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Na composição das EIs, um item lexical pode ser
substituído por outro, desde que o valor semântico seja semelhante. Trata-se da
variação por permuta verbal. No nosso corpus, encontramos apenas 2 (dois) casos
de permuta verbal para a unidade sair do armário, conforme exibe o
quadro abaixo:
Quadro 02- Variações das Expressões idiomáticas-
Permuta verbal
TIPO DE VARIAÇÃO
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EXEMPLOS
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PERMUTA VERBAL
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1. Arrombou o armário
Wentworth Miller, astro
da série norte-americana “Prison Break”, assumiu ser gay em uma carta enviada
para a organização do Festival de Cinema Internacional de São Petersburgo. (Jornal
Super Notícia, 18/11/2014)
2. Tirar
o bofe do armário (Expressão livre)-Será que ela quis tirar o bofe
do armário à força? (Jornal Super Notícia,18/11/2014).
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Observamos que, embora o verbo sair tenha sido substituído pelos verbos tirar
e arrombar, conforme atestam os exemplos do quadro 3, as expressões sair
do armário arrombar o armário mantêm o mesmo sentido de se libertar, quando
o sujeito assume a homossexualidade. O dicionário eletrônico Caldas Aulete
(2014) registra a expressão sair do armário como o ato de assumir a
própria homossexualidade.
Tal como mostramos, a substituição da expressão sair do armário por
novos itens lexicais-tirar o bofe do armário e arrombar o armário ganha
maior expressividade, visto que tirar e arrombar são verbos que
nos dão a ideia de ação concretizada pela força.
Nos casos apresentados acima, a ideia de força
está subjacente ao ato de se libertar no processo de confirmação da
homossexualidade. Na sua versão eletrônica, Caldas Aulete (2014) dá ao termo arrombar,
por exemplo, o significado de romper, de usar a força na ação verbal.
Verifica-se, então, que as forma arrombar o armário é mais enfática e
mais expressiva do que sair do armário, embora o significado permaneça
inalterado.
No caso da
expressão tirar o bofe do armário à força, consideramos que, embora
certas combinações de palavras, frente a outras combinações, que são totalmente
possíveis de ocorrerem, ainda há controvérsias, no tocante à classificação de
algumas colocações, caso da expressão tirar o bofe do armário à força,
diante da complexidade em fazer distinção entre tais estruturas. Dadas as
controvérsias inerentes à classificação dessas construções, optamos por
tratá-las como expressões livres.
Outro tipo
de modificação parcial na estruturação dos constituintes lexicais é a variação
pela forma negativa com é apresentada a EI. Em geral, esse tipo de variação
acontece para melhor adequação da unidade ao discurso. No nosso corpus,
das 187 expressões examinadas, foram encontrados apenas dois casos de variação
nas formas de negação.
Quadro 03- Variações das Expressões idiomáticas
nas diferentes formas de negação
TIPO DE VARIAÇÃO
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EXEMPLOS
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FORMA DE NEGAÇÃO
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1. Fernandinha não dá mole (dar mole/não
dar mole)
(Jornal Super Notícia. Belo Horizonte, 10 de
outubro de 2014,
página 22)
2. Não larga o osso! (largar o osso/não
largar o osso)
Até
agora, o ilustre presidente da FIVB não veio a público para se explicar. Está
sumido! Esse osso deve ser bom mesmo, pois esse pessoal não o larga de
jeito nenhum! (Jornal Super Notícia. Belo Horizonte,10 de outubro de
2014.página 23).
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Com a inserção do advérbio de negação, o papel semântico-sintático1 liga-se ao núcleo verbal. Na classificação do advérbio de negação não,
por exemplo, ele se pauta pelos valores léxicos das unidades que o constituem.
O valor de existência que se atribui ao estado das coisas é designado pela
oração negada. Nos exemplos não dá mole/não larga o osso, temos uma
forma de negação da UF matriz (dar mole/largar o osso). Na seção seguinte,
damos continuidade à discussão, considerando o acréscimo de itens lexicais às
unidades.
Atentando-se para as características das unidades variáveis orientadas nos
parágrafos anteriores, examinamos a possibilidade de inserção de um novo item
na estrutura das EIs. Ao analisar os casos de inserção de um item lexical no corpus,
observou-se que o número de ocorrências desse tipo de variação foi um número
significativamente menor, embora tal variação não possa ser ignorada, pois
ilustra outros tipos de variação dessas UFs.
Os dados mostram que foram poucas as unidades 3% (3) que tiveram o acréscimo de
um item lexical em sua estrutura. Por outro lado, 97% (184) que não tiveram o
acréscimo de um item lexical, foram as unidades que mantiveram,
consequentemente, sua carga metafórica. No quadro seguinte, temos 02 (dois)
exemplos desse tipo de variação.
Quadro 04-Variações das
Expressões idiomáticas- Inserção de um item lexical
TIPO DE VARIAÇÃO
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EXEMPLOS
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INSERÇÃO DE UM ITEM
LEXICAL
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1. Técnico frisa parceria
com a torcida e espera colher bons frutos na sequência.(Jornal
Super Notícia,2 de novembro de 2014, p.17).
2. A população terá que arregaçar as
próprias mangas. (Jornal Super Notícia. Belo Horizonte, 1 de julho de
2014,p.17).
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Na imprensa popular, um fato terá maior probabilidade de ser noticiado se
possuir capacidade de entretenimento, for próximo culturalmente do leitor e
puder ser simplificado, mas também se puder ser narrado dramaticamente. Dessa
maneira, a linguagem empregada nas notícias do Super se utiliza de
vários recursos para dialogar com o leitor e tornar o fato noticiado mais
enfático.
Em gêneros de tipologia
narrativa, a adjetivação funciona como um recurso expressivo. Os adjetivos
explicadores destacam e acentuam uma característica inerente do objeto
nomeado ou denotado, conforme vimos na seção 2.8 do capítulo 2. Nesse caso, o
adjetivo pertence a um inventário aberto, tendo entre suas funções, a de delimitador
explicador. Na expressão colher bons frutos, por sua vez, a inserção
do adjetivo bons na UF, teve o mesmo efeito e a mesma função de
delimitador explicador do primeiro exemplo.
As palavras são empregadas nas frases, justificando o exame de suas diferentes
possibilidades combinatórias nas cadeias frasais. Na expressão arregaçar as
próprias mangas, como exemplo, a inserção do pronome próprias denota
identidade ao substantivo mangas. Ainda em Bechara (1999), observamos que a
função dos pronomes mesmo e próprio tem valor demonstrativo, ao
se referirem a seres e ideias já expressas anteriormente. Assim, inserir
modificadores na estrutura da expressão pode retirar ou alterar sua carga
metafórica, alterando seu sentido. Entretanto, nem todas a UFs admitem
transformações.
O fenômeno da coocorrência foi observado por Palmer (1979), relacionando-o a
“frases idiomáticas”. Ele ainda destaca as inúmeras restrições gramaticais e
sintáticas sofridas por essas frases. Em relação às expressões idiomáticas coletadas
no nosso corpus, observamos que o número de EIs que admitem modificações em
suas estrutura é menor do que aquelas
Quadro 05- Variações das
Expressões idiomáticas- Restrição sintática
TIPO DE VARIAÇÃO
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EXEMPLOS
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RESTRIÇÃO SINTÁTICA
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1.Cuca quebra
a cabeça. (Jornal Super Notícia, Belo Horizonte, 13 agosto 2013, p.26).
2. Aécio está dando um banho na
presidente Dilma em Minas, segundo pesquisa Sensus que ouviu 1.500 mineiros
entre os dias 25 e 29 de julho.(Jornal Super Notícia. Belo Horizonte,11 de
set. de 2013, p.23).
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Perder a cabeça é uma EI que corresponde a cometer loucuras, ser
imprudente. Enquanto dar um banho significa realizar determinada ação em
abundância. Trata-se de unidades que apresentam restrições sintáticas. A forma
verbal comporta-se tipicamente como um item normal da língua, sem restrições
gramaticais, o mesmo não ocorre com o item nominal: (perdeu a cabeça, vai
perder a cabeça/deu um banho, vai dar um banho). Observamos ainda, a
possibilidade de preenchimento do sujeito: Cuca perdeu a cabeça, nós
perdemos a cabeça, ele vai perder a cabeça. Entretanto, não podemos ter: Perdeu
as cabeças, Perdemos as cabeças, ele vai perder as cabeças.
Da mesma forma em que ocorre o preenchimento de sujeito em: Aécio está dando
um banho, nós demos um banho, ele vai dar um banho e, não, Aécio deu uns
banhos, demos uns banhos. Ainda que haja a possibilidade de inserção de um
sujeito, os itens nominais cabeças/banhos não são adequados para essas
expressões no sentido idiomático. Como restrição sintática, observamos a
impossibilidade de apassivamento: “a cabeça de cuca foi perdida”. Considerando
o sentido idiomático da expressão, tal interpretação é impossível.
Referências
1Este artigo tem como base
MENDES (2015), dissertação de mestrado defendida e aprovada na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), sob orientação da Profa. Dra. Evelyne Jeanne
Andrée Madeleine Dogliani.