As letras de suas músicas recendem a poesia, esquadrinham a alma humana, pinçam Deus e o diabo nos detalhes, e subvertem a lógica e o sistema. (...) Na literatura (...) sua antimensagem é um convite ao mais profundo do nosso ser, lá onde o discurso se cala e a intuição passeia de mãos dadas com sua irmã gêmea – a inteligência. (...) Chico é todo ele palavra.
Frei Betto, Chico Buarque do Brasil
O poder do dinheiro e a corrupção estão presentes na Ópera do Malandro, ao mesmo tempo em que o Brasil abre suas portas para a invasão das multinacionais. Justamente ao final do Estado Novo, Chico Buarque cria uma trama dramatúrgica no bairro da Lapa ( RJ ) na década de 1940.
É nesse cenário político e apimentado, que
é dado o enfoque à rivalidade entre o comerciante,
dono de bordéis, Fernandes de Duran e o contrabandista Max Overseas. O
embate entre os dois inimigos ganha intensidade quando a filha de Duran,
Teresinha de Jesus, casa-se, em segredo, com Overseas.
Com relações controversas em meio à queda de um sistema econômico, ele acaba por desvendar um lado do Rio em que o dinheiro é o grande protagonista e inexiste um herói diferente do próprio capital. Todos lutam pela mesma sobrevivência , enquanto os outros estimam o acúmulo de riquezas.
É o modelo do Capitalismo brutal que se instalava na dramaturgia, representando a vida real.
Chico Buarque compôs quatorze canções inéditas
para a peça depois gravadas em disco, e muitas delas se tornam grandes
sucessos, como Folhetim, que, depois, foi gravada por Gal Costa; O Meu Amor, dueto interpretado por Marieta Severo e Elba Ramalho; e Geni e o Zepelin.
Um enredo de pretexto dos mais marcantes na obra do velho e triunfante Chico.
Aguardem novas publicações.
Professora Marília Mendes