Eis que termino de ler A duração do Dia de Adélia Prado, editado pela Record. Depois que adquirimos maturidade para separar aquilo que é inadiável daquilo que pode ser para depois, algumas atividades encaixam-se ,perfeitas, nesse intervalo.
Venho
lendo Adélia, desfazendo os ombros duros do carnaval, almoço, livro
fresco, preparado nas compras de final de folia, quando o corpo diz
que quer exatamente sossego. Aí driblamos algumas porcentagens de
relaxamento esquivo e a leitura tem esse consórcio com a gente: Você
vai lendo, vai lendo, e chega um momento, em que é contemplado.
Já lia Adélia antes, guerreira de Divinópolis com algumas presenças na faculdade de Letras da UFMG. Séria, terrivelmente sem dar graça, compensava tudo que não podia inserir entre aqueles estudantes, no êxtase democrático da sua poesia.
Já tinha Bagagem, de outros tempos. Agora, com a impetração de um novo título, sobressaem versos muito extensivos ao corporal, sensíveis e sustentadores da glória de recolher em cada sílaba métrica, muita força feminina,mas com muita disposição para a compreensão do oposto. Eu a vejo assim, mas em outras descrições também, desconfio que ela esteja:
"O
erotismo, a liberação feminina e as peculiaridades da poesia são
outros temas constantes nos textos de Adélia. A abordagem é a da
dona de casa que trata tudo com a mesma simplicidade das tarefas
cotidianas. Ela se auto-afirma sem medo, com a força que viria de
Deus. Em seu provincianismo, não há tédio ou melancolia, como em
Drummond. Pelo contrário: as pequenas coisas são cheias de
significado, tornando-se universais. “ - Revista Bravo.
Entre
tantos, merece hoje, para o deleite dos devotos de Adélia, uma
constatação literária, cômoda, simples e erótica, por ser
corporal, mais que isso, na alma, é a remissão de alguns desejos em
páginas.
In:
"A Duração do Dia", editora Record, 2010.
Continuar a escrivinhação de BAGAGEM em outro corpo livro ou livro corpo,é estocar prazer por mais 10 anos. Certamente, isso durará mais que um dia.