30 março 2011

Eis que termino de ler A duração do Dia de Adélia Prado, editado pela Record. Depois que adquirimos maturidade para separar aquilo que é inadiável daquilo que pode ser para depois, algumas atividades encaixam-se ,perfeitas, nesse intervalo.
Venho lendo Adélia, desfazendo os ombros duros do carnaval, almoço, livro fresco, preparado nas compras de final de folia, quando o corpo diz que quer exatamente sossego. Aí driblamos algumas porcentagens de relaxamento esquivo e a leitura tem esse consórcio com a gente: Você vai lendo, vai lendo, e chega um momento, em que é contemplado.

Já lia Adélia antes, guerreira de Divinópolis com algumas presenças na faculdade de Letras da UFMG. Séria, terrivelmente sem dar graça, compensava tudo que não podia inserir entre aqueles estudantes, no êxtase democrático da sua poesia.
Já tinha Bagagem, de outros tempos. Agora, com a impetração de um novo título, sobressaem versos muito extensivos ao corporal, sensíveis e sustentadores da glória de recolher em cada sílaba métrica, muita força feminina,mas com muita disposição para a compreensão do oposto. Eu a vejo assim, mas em outras descrições também, desconfio que ela esteja:

"O erotismo, a liberação feminina e as peculiaridades da poesia são outros temas constantes nos textos de Adélia. A abordagem é a da dona de casa que trata tudo com a mesma simplicidade das tarefas cotidianas. Ela se auto-afirma sem medo, com a força que viria de Deus. Em seu provincianismo, não há tédio ou melancolia, como em Drummond. Pelo contrário: as pequenas coisas são cheias de significado, tornando-se universais. “ - Revista Bravo.

Entre tantos, merece hoje, para o deleite dos devotos de Adélia, uma constatação literária, cômoda, simples e erótica, por ser corporal, mais que isso, na alma, é a remissão de alguns desejos em páginas.
In: "A Duração do Dia", editora Record, 2010.

Continuar a escrivinhação de BAGAGEM em outro corpo livro ou livro corpo,é estocar prazer por mais 10 anos. Certamente, isso durará mais que um dia.