29 novembro 2015


ARQUIVO PESSOAL DE LILA MENDES-NOV.2015
Tão forte como a formação híbrida que dá origem ao título da postagem, São Paulo é uma revisita agradável, acompanhada pelo glamour de uma cidade que não dorme, mas acorda todos os dias, começando pela Universidade de São Paulo (USP), onde participamos do XI Colóquio sobre os estudos lexicais em diferentes perspectivas. No Colóquio, trocamos experiências a partir de trabalhos na área da linguística, que muito me interessaram. Em particular, conheci um pesquisador, que também desenvolve um trabalho com um jornal popular, o Meia Hora, do Rio de Janeiro. Comprovada a hipótese de como a mídia impressa popular está presente em pesquisas acadêmicas, com finalidades pedagógicas, cada vez mais consistentes e elucidativas, saí do congresso realizada.
ARQUIVO PESSOAL DE LILA MENDES-NOV.2015

Estivemos acomodados no bairro Pinheiros, próximo à Vila Madalena e exploramos um lado de São Paulo, boêmio, com bons bares, música ao vivo e, como sempre, de uma exibição gastronômica ostentadora. Investimos em um tour aos principais museus de SP, incluindo o MASP e o Museu da Língua Portuguesa que, por sinal, está cada vez mais charmoso e mais rico de informações acerca da nossa língua materna e da influência de outros idiomas e expressões populares na formação do português. O Museu da Língua Portuguesa conta com três compartimentos, sendo duas exposições (a permanente e a provisória) e um andar com um ciclo de debates e videografia. Achei o museu lindíssimo desta vez. Quero voltar com os alunos. 
ARQUIVO PESSOAL DE LILA MENDES-NOV.2015
 
São Paulo é um misto de sensações. SÃo Paυlo nυnca dorмe, мaѕ acorda. É υмa ιмpreѕѕÃo мeιo caмυғlada do qυe é concreтo e do qυe é poeѕιa. A frase faz parte de um texto de minha autoria, em vias de publicação.

ARQUIVO PESSOAL DE LILA MENDES-NOV.2015


Com uma temperatura amena, de quinta a domingo, São Paulo abrigou-nos com a mesma festa, semelhante ao ritual do escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, que morreu em abril de 2015. Ao refletir sobre os grandes centros urbanos, o autor comenta

Os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados, mas podem olhar tudo.



Era a famosa liquidação Black Friday, a vitrine comercial e descartável que iríamos vislumbrar. Ir às compras parece inofensivo, mas é a cultura do consumo que preenche uma parte da viagem a são Paulo. Todas as coisas ali consumidas serão descartadas. Ficarão apenas as fotos dos museus, das famosas streets, pelas quais transitamos, e o dinheiro volta à velocidade da luz. 
 
ARQUIVO PESSOAL DE LILA MENDES-NOV.2015
Talvez, a cidade que finge não dormir, resgata sua autonomia no turismo. Seus espaços são aconchegantes e isso não nos tira o prazer de consumir São Paulo por inteiro. Ser descartável no mundo do consumo é um outro defeito a superar.



Voltei a ler as crônicas do escritor Eduardo Galeano. Acho que o motivo está na quantidade incrível de shopping centers espalhados na armadilha do caça-bobos de que nos fala o escritor. Tirando a marcha às compras, eu fui aos museus, tomei um frappuccino de chocolate na starbucks, fui à estação da Luz, ao parque Villa Lobos e fiz os percursos vespertinos aos gigantes da efemeridade. Comprei! Voltei com as sacolas abastecidas para mais de um natal. 
 
ARQUIVO PESSOAL DE MARÍLIA MENDES-MUSEU DE LP-NO. 2015/SP

Ainda bem que, desta vez, enquanto lia Galeano, depreendia que o valor das pessoas precede, não das coisas e dos objetos que os enfeitam, mas dos sorrisos, das palavras de amor e das atitudes. Via um rosto muito comum na estação. Queria expandir esse rosto em uma tela. A poesia é algo que pertence à cidade. Uma parte do concreto se converte na subjetividade. Enquanto eu seguia com uns amigos pela Paulista, imaginei que aquele sorriso é algo que se poetiza. As cores que ele tem são como as vias e as curvas de São Paulo. Paramos para bebericar alguma coisa na Vila Madalena. Os bares estavam, como sempre, fervendo. A música que tocava desta vez, era a do meu Louro Humberto Gessinger. Parei para escutar. Escutando, pude entender o porquê de estarmos ali. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta. Nem mesmo a intensidade deste sorriso que me acompanha. Ele sorri quando fala alguma coisa. Um sorriso de qualquer maneira, descartável, gaboso como São Paulo, mas deliciosamente, eufórico.


  Professora Marília Mendes

Referência

GALEANO, Eduardo. O império do consumo. http://mercado-global.blogspot.com/2007/01/o-imprio-do-consumo.html . Postado em janeiro de 2008, acessado em novembro de 2015.