23 março 2012

 “Ludus est necessarius 
ad conversationem humanae vitae.” 
– “O humor é necessário 
para a vida humana.” 
(São Tomás de Aquino)

A palavra humor surgiu entre os gregos com o intuito de preservar a saúde física e emocional do homem. Se o homem é o único animal que de fato ri, é exatamente pela capacidade de sorrir, que ele  cria hábitos e costumes em diferentes épocas que modificam sua forma de pensar e criticar o mundo.

 Já o humor é determinado essencialmente pela personalidade de quem ri. Por isso, pode-se pensar que o humor não ultrapassa o campo do jogo ou os limites imediatos da sanção moral ou social, mas este pode subir mais alto e atingir os domínios da compreensão filosófica, logo que o emissor penetre em regiões mais profundas, no que há de íntimo na natureza humana, no mistério do psíquico, na complexidade da consciência, no significado espiritual do mundo que o rodeia.  Trata-se, portanto, de uma categoria intrinsecamente enraizada na personalidade, fazendo parte dela e definindo-a até. É por isso que se diz “Há tantos humores como humoristas.”.


Entre tantos humoristas, Chico Anysio, aos 80, com uma coleção de tipos entre os mais de 200 personagens que  criou,  deixa-nos o riso  fácil e inteligente da sua forma de fazer pensar, sorrindo.
Conhecido pelos personagens de cunho social, representantes de diferentes classes, do humor regional do sertão nordestino ou da malandragem carioca do subúrbio, ele contribuiu para a história do humor brasileiro, com grupos caricatos , organizados em função da indignação ou da compaixão do brasileiro diante dos fatos. Jamais perdeu a oportunidade de evidenciar a insatisfação do povo brasileiro diante das mazelas com que somos presenteados diariamente.

O poder do riso provocado nas piadas do humorista iam desde a teoria da incoerência à teoria do alívio. A tipologia entre os protagonistas que ele criava reunia desde as figuras políticas até os anônimos que compõem os grandes centros urbanos ou se enfrentam no interior do Brasil. Ainda insistia em figuras que assinavam características burlescas. A  Escolinha do professor Raimundo foi uma grande escola para esse humor concentrado nas questões sociais. Sua maior frase e talvez a que tenha celebrado o sucesso imediato da escolinha , " e o salário, oh...", jamais será esquecida pelo brasileiro.


Na TV, no rádio ou no teatro, ele fez sua trajetória. Do Brasil nordestino do Pantaleão ao Brasil carioca de Azambuja. Lá estão suas histórias. No Bexiga e no Bicão, de Bosó a Capitão Trovão, entre tantos coronéis ao Doutor Excelência, de Justo Veríssimo a Lobato, o refeito de Napoleão e o Popó com seus 364 anos, de Albarde ao seu Zelberto Zeu, lá estão eles no alfabeto de Chico Anysio.


Uma história de piadas e de reflexões . E se esta piada, a de morrer, não tem graça, quem sabe esse múltiplo-homem , venha, restituído da glória, à memória do humor que tudo ou nada ensina, inspirar o universo de Raimundos , Painhos e Badés, que reinventam a Chico City ou como Fukida, que não domina a Língua Portuguesa, mas continua tentando. Hoje, ele já fala com Deus, a sós. Esse riso Anysio de ser calou-se. Foi " vapt-vupt ! "  

Rest in peace, Chico.

                                          Professora Marília Mendes  ♥
  

SE EU QUISER FALAR COM DEUS

Gilberto Gil1980

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor...