21 novembro 2011

Contemple o Natal .
Natal de Manjedoura em presépios montados .
No seu Belém de papel ou na sua estrela cíclica, dos seus pinheiros e das suas ruas curvas da cidade concreta.
Deixe esse menino vir de novo,
na sua Nazaré  de escândalos (do povo), 
ou dessa gente que minimiza a dor 
do parto, em ter que nascer todo dia para sobreviver.

Deixe a Maria, deixe o José,
que caminham unidos  em virtudes.
Nestes teus dezembros bem ou mal vividos,
das preces que fizestes no ano passado, 
ou daquilo que não se confirmou.

Das noites viradas e das visitas dos reis, 
que não trouxeram teus presentes esperados, 
ou que os trouxeram quase pela metade,
dos anjos que não te guardaram da tua própria falta de fé.

Lamente o perdido, o triste e o inevitável, 
das contradições indiciadas no  amargo e no velho ciclo
que não se fechou. Não era ainda o fim do mundo
e muita coisa ainda nem começou. 
Mas a dor passou.

Instiga a hora e põe nela verdades,
emociona a tua oração,
de cantos para o alto, do  sino de blém-blém-blém,
do que ninguém compreende e que por não compreender,
ainda espera.

Espere o Natal outra vez, 
que tem cheiro de passas, nozes quebradas 
ou  cheiro de melancolia, sentada ao lado da esperança, compondo a mesa, cheio de resignação.
Do prato fundo, raso, da receita tirada do ontem 
que não serve mais nada. 
Do vinho que venceu e das vindimas 
que não fostes colher com amor, mas que deram frutos.

Insista no natal sincero, que te reserva, austero,
escutando a voz do silêncio, do cheio de clarão,
que o natal não vira a esquina , não é pagão.
Seguindo ali na multidão, 
com mais cor do que da neutralidade da última vez
da falta de fé que nada transformou.

Estacionado ali, espera o "vir ao mundo", 
com flores de begônia e 
perfume de rosas.
Florido natal que te cerca,
natal de famigerados ou de gente anônima.

Ali, aqui, seguem na fila, esperando o natal, 
esperando do natal,
da tua classificação e não de um prêmio,
oculta a via crucis, esmera...
Lá longe, alguém já viveu o natal,
E é lá, paciente e absoluto, que o mundo regenera...
O Natal vem hoje,  amanhã e todo dia 
em que menos se espera.
                                      ( Professora Marília Mendes )